Líder da Minoria na Câmara dos Deputados e candidato ao governo do Rio de Janeiro ano que vem, Marcelo Freixo afirmou, em entrevista ao Diário 98, que filiará junto ao governador do Maranhão, Flávio Dino, na próxima terça-feira (22) ao PSB. Freixo elogiou Dino, a quem é “o melhor governador do Brasil”. Sobre o processo eleitoral do ano que vem ele sublinha que a eleição de 2022 “é tão importante que ela poderá ser a última”. O deputado do PSB prega uma frente ampla com PT, PDT, partidos de esquerda e de Centro a fim de que o campo democrático derrote ano que vem o negacionismo bolsonarista.
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Ao D98, Freixo relatou a preocupação com a influência das milícias no processo eleitoral brasileiro. Para o congressista, as milícias tiveram e ainda têm influência na eleição do vice-governador do Rio de Janeiro (Cláudio Castro, hoje governador após impeachment de Wilson Witzel), além de uma proximidade umbilical com o clã Bolsonaro. “Se nós perdemos a eleição para o atual presidente estará legitimando um processo fascista nesse país”, disse.
Na visão de Freixo a candidatura do pedetista Ciro Gomes encontra um espaço muito pequeno para prosperar. “Então, a retomada da candidatura do Lula, da forma que foi, mexeu com o tabuleiro de uma maneira que não caracteriza e não deve ser lida como uma redução do papel do Ciro”, avaliou.
Freixo falou com o D98 no sábado (19), data em que mais de 420 cidades no Brasil e exterior protestaram por mais vacinas e pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
No sábado, o Brasil também atingiu a marca de 500 mil mortos pela Covid-19. Para Freixo, a não compra de vacinas, a falta de diálogo com prefeitos e governadores, além do estímulo a um medicamento impróprio para a pandemia elevam Bolsonaro ao grande responsável pelo número de mortes no Brasil.
Veja abaixo o inteiro teor da entrevista.
Diário 98: Na CPI da Covid o ex-governador do Rio, Wilson Witzel, disse que as milícias teriam participado de uma motocada com o presidente. O senhor acredita que as milícias terão alguma influência no processo eleitoral do ano que vem?
Marcelo Freixo: Milícia sempre teve influência no processo eleitoral, inclusive na eleição que elegeu o próprio vice [Cláudio Castro]. E isso ele se esquece. A milícia é um grupo criminoso muito estabelecido aqui no Rio de Janeiro, que domina boa parte do território da cidade do Rio.
Claro que, tanto tráfico de drogas quanto a milícia são organizações criminosas que precisam ser enfrentadas, mas a milícia tem um aspecto de máfia. A milícia é um domínio territorial, um negócio criminoso, tem um poder muito grande, bélico, não o poder de terror, mas tem uma projeção política que outros grupos criminosos, que também são violentos, não tem, a milícia elege gente. A milícia se organiza. Ela está dentro do Estado. Ela é o crime mais organizado que existe no Rio de Janeiro, não é o único crime violento, mas é o mais organizado com perfil político.
Eles transformam o domínio territorial em domínio eleitoral. Sempre fizeram isso. O Fabrício Queiroz, que foi braço direito da família Bolsonaro durante muito tempo, é investigado por peculato, rachadinha, dentro do gabinete do Flávio Bolsonaro, que também é investigado quando ele era senador [na verdade quando era deputado estadual] e sempre teve relações com as milícias do Rio de Janeiro, a começar pela sua relação muito estreita com Adriano da Nóbrega, que era um matador ligado às milícias que faleceu recentemente na Bahia e que tinha parentes no gabinete na família Bolsonaro. Então a milícia sempre agiu de forma política porque é o perfil da milícia. Isso aconteceu no passado. Certamente vai acontecer nas próximas eleições.
D98: É possível comandar o Rio de Janeiro com essa influência monstruosa da milícia? Principalmente agora que ela tem comandado áreas do sul e do Norte Fluminense?
Freixo: É necessário fazer uma frente democrática no Rio de Janeiro que possa dar ao Rio um projeto de Desenvolvimento e de Segurança. Acho que esse são dois eixos muito concretos de qualquer programa para o Rio de Janeiro. Qualquer debate sobre a educação, saúde, tecnologia, que são fundamentais, eles estão dentro de um programa de desenvolvimento. Você tem de retomar o desenvolvimento do Rio. E isso está diretamente atrelado à Segurança.
Você tem que ter um governo que mande um recado para a Polícia, que faça um projeto sobre a polícia do Rio de Janeiro, que traga modernização para a polícia, mas que tragam um conjunto de setores da sociedade do Rio de Janeiro a se envolver no debate da segurança.
Segurança pública não vai ser resolvida no Rio só com a polícia. Pelo contrário, tem que ser um grande envolvimento da sociedade com a própria polícia, tem caminhos. A gente sabe perfeitamente como fazer, mas é preciso que tenha uma outra direção de governo, diferente da que nós tivemos nos últimos anos.
A violência policial no Rio é resultado de uma violência política há muitos anos estabelecida aqui. Nós temos uma elite política muito violenta, muito corrupta, que se utiliza da polícia como forma de violência para o domínio da vida das pessoas mais pobres. Então a origem da milícia, a origem dessa desigualdade, a origem desse caos político estabelecido no Rio de Janeiro tem a ver com uma elite política que governa o Rio há muitos anos e que levou à prisão todos os ex-governadores eleitos dos últimos tempos.
D98: Você anunciou recentemente a sua filiação ao PSB. O que o motivou a esse movimento?
Freixo: Olha, tanto eu quanto o Flávio Dino, governador do Maranhão, a gente vai se filiar ao PSB na terça. E esse movimento é porque a gente tem um entendimento…, primeiro que eu sou muito grato a tudo que vivi no PSOL. Foram 16 anos de vida no PSOL, com muito afeto, muita construção, debate, até que a gente amadureceu a minha saída ao ponto do PSOL tudo indica ficar dentro do leque de alianças que a gente vai fazer para disputar o governo do Rio de Janeiro.
Mas, eu acho que em 2022 a gente vai ter eleição mais importante da nossa história. Em 2022 vamos ter uma aliança necessária das forças progressistas, dialogando com o Centro, porque essa eleição de 2022 é tão importante que ela pode ser a última. Se nós perdemos a eleição para o atual presidente estará legitimando um processo fascista nesse país. E que sem dúvida será a maior tragédia da ditadura civil militar que ficou 21 anos aqui no poder.
Então eu estou indo para o PSB na lógica da construção de um partido de centro esquerda, que tem um perfil diferente. Eu acho que os partidos de esquerda terão que ter uma capacidade de construção de frente, com muito diálogo e com um programa que possa garantir a soberania para o Estado Brasileiro. E isso é fundamental ao Brasil, e mais ainda no Rio de Janeiro que é o berço desse bolsonarismo e desse projeto de sociedade miliciano.
D98: O senhor é deputado federal pelo Rio de Janeiro. Como surgiu a sua afinidade com o governador do Maranhão Flávio Dino?
Freixo: Eu acho que o espírito que nos move na política é universal. Eu acho que os humanistas, socialistas, aqueles que lutaram a vida inteira por um mundo melhor, a gente se aproxima. Independente de qualquer fronteira territorial.
Eu tenho uma admiração muito profunda pelo Dino. Acho que o Dino, além de para mim ser o melhor governador que tem hoje no Brasil, que me perdoem todos os outros, mas acho isso mesmo, um dos mais competentes, mais comprometidos, tem uma história de vida incrível. O Dino é um ser humano extraordinário, além de muito capaz, muito inteligente. Ele tem um sentimento de justiça muito forte e acho que a gente se identificou desde um primeiro momento.
A gente se conheceu pessoalmente num ato aqui no Rio de Janeiro, e dali em diante a gente sempre trocou muita conversa, muito cuidado um com o outro, numa amizade muito bacana. Estou muito feliz de caminhar com o Dino para a construção desse espaço, que eu espero que seja fundamental para derrotar Bolsonaro.
D98: O senhor acredita que essas brigas entre o PT e o PDT podem atrapalhar a construção de uma frente ampla contra Bolsonaro?
Freixo: Eu espero que não. Eu tenho conversado muito, eu sou muito amigo do Lupi [presidente do PDT]. A gente é vizinho no Rio de Janeiro. A gente sempre dialoga muito, sempre conversa, tenho um respeito muito grande pelo Lupi. E o Lupi conseguiu manter o PDT, depois da morte do Brizola, e isso foi uma tarefa que ele segurou na unha e conseguiu fazer.
Eu acho que a gente vai precisar de muita maturidade em 2022. Vai ser um plebiscito sobre a Constituição de 1988. Eu já falei isso algumas vezes, acho que a Constituição de 88 vai ter um plebiscito nessa eleição, se ela vai continuar valendo ou não. Se ela vai ter valia ou se a gente vai rasgá-la de vez. A vitória de Bolsonaro é o fim da Constituição de 88 e tudo o que representou a Constituição de 88. Então, acho que nós não temos o direito de caminharmos divididos e separados para essa eleição de 22.
Eu tenho muito respeito pela candidatura do Ciro. Eu tenho muito respeito pelo Ciro. Mas o tabuleiro da política às vezes se movimenta de uma maneira que a gente não controla, né? A gente não controla tudo na vida, muito menos na política. Então a retomada da candidatura do Lula, da forma que foi, mexeu com o tabuleiro de uma maneira que não caracteriza e não deve ser lida como uma redução do papel do Ciro.
Mas é evidente que não há espaço para duas candidaturas no mesmo campo. Então você de um lado tem uma candidatura do Bolsonaro que é viável, que é forte, o Bolsonaro vai chegar com chance de eleição. Nós não podemos cometer o erro que cometemos em 18. Em 18 a gente considerou até o segundo turno que o Bolsonaro jamais ganharia a eleição. E os índices e estudos diziam que ele podia ganhar. Nós não podemos cometer o mesmo erro em 22.
Bolsonaro tem a máquina na mão. Tem o Centrão na mão, ou ele na mão do Centrão, as duas coisas são verdadeiras. Mas ele tem um grupo de fanáticos. Ele tem uma rede social baseada em fake news que é muito poderosa, e ele é um candidato competitivo.
Então o fascismo vai se tornar competitivo em 22. Nós não podemos arriscar perder essa eleição, pela importância que tem. Então eu espero que o tempo, que faltam 15 meses para eleição, esse campo progressista todo consiga entender que a gente está unido nesse momento, mais que em qualquer outra. É a eleição mais importante das nossas histórias.
D98: Neste sábado o Brasil atingiu essa marca de 500 mil mortos pela Covid. O que isso revela sobre a gestão da pandemia no Brasil?
Freixo: Revela que tem um criminoso à frente da Presidência da República. Tem alguém que comete crime contra a vida, contra a saúde pública. É inaceitável. Não se trata de ser um Presidente de direita, ou um presidente militarizado, ou um presidente que defende privatização das estatais. Não estou debatendo programa de governo, concepção de Estado. Eu estou debatendo a postura de uma pessoa que é criminosa. Que não comprou vacinas, que não dialogou com prefeitos e vereadores, que estimulou medicamento impróprio para uma pandemia, que foi a pior crise sanitária e social que o planeta viveu nesse século. Então é muito grave. E a gente tem uma pessoa à frente da Presidência da República que não é só um presidente ruim. Ele é uma pessoa ruim. Então ele é responsável direto. O presidente Bolsonaro é responsável direto pelas 500 mil mortes.
Não há nenhum brasileiro que não tenha perdido alguém que gostasse muito, perdido alguém próximo. Todo mundo conhece alguém que morreu, e de forma trágica, porque a gente não se despede, porque a gente não tem o culto da despedida, então a dor é ainda maior.
Uma avalanche de tristeza e de sofrimentos, e a gente vai transformando isso em número. Agora são meio milhão de brasileiros mortos. E nós não precisaríamos ter. Se isso fosse inevitável, se fosse um acidente, um terremoto que a gente esperava, que morresse meio milhão de pessoas é uma coisa. Não é isso. O vírus demorou a chegar ao Brasil. Nós tivemos tempo de agir com precaução, nós tivemos tempo de comprar vacina.
Nós poderíamos ter feito o isolamento social com prudência e ele até hoje estimula as pessoas a não se cuidarem, a não usarem máscara. Então tem um grande responsável por essa morte em massa de brasileiros que é o presidente Bolsonaro. Espero que um dia ele pague por isso e que ele seja responsabilizado, porque é muito grave.