“Acredito que a melhor forma de atuação para a esquerda brasileira seja em torno de uma frente, de um partido de frente” Foto: Reprodução

Em entrevista realizada no último sábado, dia 12 de Junho, através do aplicativo Zoom, ao Diário 98, o Secretário de Comunicação do Governo do Maranhão, Ricardo Cappelli, falou sobre a criação de uma frente única da esquerda brasileira, a possível fusão entre o PCdoB e PSB e fez uma análise sobre as eleições de 2022.

Desde 2015, Ricardo Capelli é um dos colaboradores do Governo de Flávio Dino, foi Secretário chefe da Representação do Governo do Maranhão no Distrito Federal e, atualmente, é o responsável pela secretaria de Comunicação do Governo do Estado. O secretário tem longa trajetória na política, que vai desde o movimento estudantil até a política institucional, são mais de 20 anos de militância, com destaque para a cadeira de Presidente da União Nacional dos Estudantes – UNE, ocupada por ele com maestria.

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Segundo Cappelli, a articulação da esquerda em torno do projeto eleitoral de 2022, é a base da defesa do projeto democrático e isso, passa, necessariamente, por uma frente ampla e única. É categórico em afirmar que não vê outra saída para derrotar a possibilidade de reeleição de Jair Bolsonaro e seu projeto ditatorial, antidemocrático e obscurantista. “Defendo a fusão do PCdoB com PSB e a construção de uma nova legenda. Acho importante que além do PSB e do PCdoB, outras forças possam se fundir também. Não se trata de acabar ou apagar os 100 anos de história do PCdoB, a ideia é fazer com que o PCdoB consiga jogar um papel de maior relevância nesse momento histórico.”, enfatizou o secretário.

D98: Secretário, em um artigo de sua autoria divulgado em 2020 você cita que a esquerda precisaria “calçar as sandálias da realidade”. Hoje, junho 2021, a esquerda ainda precisa calçar essa sandália da realidade?

Ricardo Cappelli: Acho que sim, a gente vive um momento muito grave. Um momento diria histórico, dramático, porque a reeleição do Bolsonaro pode significar a destruição de um projeto de país. Então, não podemos olhar para possibilidade de reeleição do Bolsonaro como mais uma eleição.  Não é mais uma eleição, seria a confirmação nas urnas de um projeto ditatorial antidemocrático e obscurantista.

Vejo com uma certa preocupação algumas pessoas achando que Bolsonaro já está derrotado e a eleição já está ganha. Acho isso uma grande ilusão.  Bolsonaro vive um dos seus piores momentos, mas mesmo assim ainda mantém algo em torno de 25 a 30 % do eleitorado com ele, quase um terço da população. Isso é muito em uma eleição de dois turnos. Será uma batalha duríssima, não tem nada ganho. A esquerda brasileira precisa ampliar, imaginar que a esquerda se basta em uma batalha contra a extrema direita é brincar com o futuro do país.

D98: Secretário, após a retomada dos direitos políticos do ex-presidente Lula e o caminho livre para uma candidatura à presidência da República, Bolsonaro tem um adversário que possa abatê-lo? Lula é o único adversário que pode derrotar Bolsonaro?

Ricardo Cappelli: As pessoas têm seu tempo histórico, a impressão que tenho é que o tempo histórico de Lula não está esgotado. Ele continua sendo a maior liderança popular do Brasil e cabe a ele a maior responsabilidade nesse momento. Não digo que só Lula derrota Bolsonaro, acho que essa não seja uma informação precisa. Acredito que Bolsonaro possa ser derrotado por outros atores também. Inclusive, defendo que todos os candidatos, todos aqueles que serão lançados como candidatos, estabeleçam um pacto pela democracia e pelo Brasil. Neste momento, como muito bem disse o deputado Marcelo Freixo, não é uma luta contra a esquerda ou direita, é uma luta da civilização contra barbárie e o presidente Lula tem uma grande responsabilidade.

D98: Cappelli, muito se fala em terceira via para as eleições de 2022, você acredita nessa possibilidade? Se sim, quem seria?

Ricardo Cappelli: Desde a redemocratização você tem polarização no Brasil. Em 1989, a primeira eleição após a redemocratização, houve muitos candidatos a presidente da República e é natural que tenha sido uma eleição com muitos candidatos. Desde então, nunca houve uma terceira via em uma eleição no Brasil. Em 94 foi PT versus PSDB, em 98 PT versus PSDB, em 2002 PT versus PSDB, em 2006 PT versus PSDB, em 2010 foi PT versus PSDB e 2014 também foi. A sociedade brasileira é dividida em dois polos. Em 2018 acontece uma novidade: Bolsonaro assume o papel de opositor do PT nacionalmente. Em 2018, a polarização acontece entre Bolsonaro versus PT.

Acho pouco provável que exista uma terceira via. Quem tentou ser terceira via no Brasil? A Marina tentou ser terceira via, o Ciro já tentou algumas vezes também e não conseguiu. Acho pouco provável que exista essa terceira via dada a história política do Brasil desde a redemocratização. O Brasil sempre esteve dividido em dois polos.

“Acredito que a melhor forma de atuação para a esquerda brasileira se dará em torno de uma frente, de um partido de frente”               

D98: Em recente entrevista à revista Veja, o deputado Marcelo Freixo falou sobre um projeto nacional para 2022. A nova estruturação da esquerda auxiliará o povo a entender melhor o projeto de 2022?

Ricardo Cappelli: Na minha opinião não é razoável o sistema político com 35 partidos. Não há 35 posições políticas e ideológicas, não é bom e isso expõe a democracia. O festival de partidos, boa parte deles sem identidade política e ideológica, gerou essa confusão no Brasil e fez nossa democracia estar em uma situação perigosa.

Bolsonaro foi construído na antipolítica, por isso o projeto dele é autoritário e contra a mediação. Projeto que foi construído pela lava-jato, em uma operação antinacional que usou a bandeira anticorrupção como instrumento de projeto político e de poder no Brasil.

É importante que a gente consiga reorganizar a política brasileira e, principalmente, a esquerda brasileira. Acredito que a melhor forma de atuação para a esquerda brasileira seja em torno de uma frente, de um partido de frente, assim como existe na África do Sul. No Congresso Nacional Africano você tem o próprio partido comunista atuando dentro dele. Para não ir tão longe, no Uruguai os comunistas atuam por meio da Frente Ampla.

Precisamos estar mais unidos e nos apresentar à população de forma mais nítida, com programas mais nítidos. Acho bom esse movimento de reorganização e aglutinação, vejo com bons olhos.

Particularmente, defendo a fusão do PCdoB com o PSB e a construção de uma nova legenda”

D98: Na última sexta, você esteve reunido com o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira e o deputado estadual Duarte Jr. Esse projeto nacional para 2022 repercute aqui no Maranhão?

Ricardo Cappelli: A conversa com presidente do PSB Carlos Siqueira foi muito produtiva. Uma conversa sobre a necessidade de unidade no campo progressista brasileiro. Particularmente, defendo a fusão do PCdoB com o PSB e a construção de uma nova legenda. Acho importante que o PSB, o PCdoB e outras forças possam se juntar também. Não uma fusão para apagar os 100 anos de história do PCdoB, uma fusão para colocar o PCdoB em uma posição superior no jogo político.

O papel dos comunistas em um momento histórico como esse, de ameaça fascista, é construir amplas frentes políticas que possam barrar a ameaça fascista. Por isso, vejo que a melhor alternativa para o PCdoB neste momento é a fusão com PSB e a construção de um partido de frente.

Formaríamos uma legenda mais ampla, de frente, com os comunistas atuando nessa legenda. Isso não significa acabar com a história dos comunistas, com a corrente política no Brasil. A fusão do PSB e do PCdoB com a criação de uma nova legenda que possa disputar poder real no Brasil sobre influência dos comunistas é o melhor caminho nesse momento.

“O ideal é que a gente consiga uma candidatura única de oposição ao projeto bolsonarista aqui no estado”

D98: Como seria a atuação dessa frente ampla aqui no estado nas próximas eleições?

Ricardo Cappeli: Acredito que a frente ampla aqui no Maranhão é fundamental. A eleição do ano que vem terá dois campos políticos claros: o bolsonarismo e daqueles que defendem a democracia. Aqui no Maranhão, nosso esforço é unir em uma frente todos aqueles que são contra o projeto autoritário de Bolsonaro. Não é simples. Há vários candidatos postos neste momento, todos legítimos, da base do governo, mas o ideal é que a gente consiga o entendimento e uma candidatura única de oposição ao projeto bolsonarista.

"O governo Flávio Dino faz história no Maranhão, não só pelas entregas que são espetaculares. "
“O governo Flávio Dino faz história no Maranhão, não só pelas entregas que são espetaculares”. Foto: Divulgação/Reprodução

D98: Participante do governo Flávio Dino desde 2015, você pôde acompanhar de perto os progressos do Maranhão e em especial sobre este período da pandemia em que o estado tem a menor taxa de mortalidade por Covid-19 do país. Diante disso, as realizações do governo Flávio Dino contribuíram para que ele se tornasse uma das maiores oposições ao bolsonarismo no Brasil?

Ricardo Cappelli: O governo Flávio Dino faz história no Maranhão, não só pelas entregas, que são espetaculares. O Maranhão já tem mais de 1.100 obras educacionais. O estado tinha seis restaurantes populares e agora são 55. Quando Flávio Dino assumiu não havia no estado escolas em tempo integrais e nem escolas técnicas, agora há uma rede de escolas técnicas e profissionalizantes pelas quais já passaram mais de 60 mil jovens maranhenses. Então, se fosse só pela revolução na educação, Flávio Dino já seria um exemplo para o Brasil. São muitos avanços, o estado do Maranhão não tem a menor taxa de mortalidade por Covid-19 por acaso, isso é fruto da ampliação da rede hospitalar como nunca na história do estado.

Flávio Dino resgatou o orgulho de ser maranhense. Flávio Dino não só faz uma gestão de excelência como também não se omite no debate político nacional de defesa das medidas sanitárias, de enfrentamento ao fascismo.

“É uma ilusão achar que Bolsonaro está morto. A batalha será muito difícil e vai exigir a ampla unidade das forças democráticas”

D98: As articulações para 2022 são um prenúncio de esperança ou trazem um impacto da realidade ao povo?

Ricardo Cappelli: O que estamos vivendo no Brasil é muito grave e a batalha será duríssima. Acho que é uma ilusão achar que Bolsonaro está morto. Bolsonaro não está morto. A batalha será muito difícil e vai exigir a ampla unidade das forças democráticas. A frente necessária para o ano que vem é uma frente democrática, uma frente daqueles que têm responsabilidade com a democracia no Brasil. Tenho o pessimismo da razão, por outro lado, também tenho o otimismo da vontade, acho que a gente tem uma possibilidade real de derrotar Bolsonaro, caso seja construída uma frente ampla contra o obscurantismo.