O deputado estadual Zé Inácio (PT), vice-líder da bancada do governo Flávio Dino na Assembleia Legislativa do Maranhão (ALEMA), falou ao D98 sobre os planos do Partido do Trabalhadores para 22, a garantia da candidatura do ex-presidente Lula, a importância da unidade em torno de uma só candidatura ao governo do Maranhão, liderada pelo governador Flávio Dino, o apoio a Eduardo Braide no segundo turno das eleições municipais e a filiação do secretário de Educação Felipe Camarão.
Membro da direção nacional do PT, Zé Inácio foi categórico: “Estaremos com o candidato de Flávio Dino em 2022”. Neste sentido, o líder petista garantiu que o partido não terá candidatos majoritários nas próximas eleições. “Considerando que fazemos parte da base liderada pelo governador Flávio Dino, há uma possibilidade de candidatura a vice ou de composição na chapa de Senado”, pondera.
“O importante é termos uma aliança e palanques para garantir a vitória das forças progressistas representadas pela candidatura de Lula”, explica.
Com um representante na Câmara Federal e outro na Assembleia Legislativa, o PT maranhense vai se concentrar na campanha proporcional na expectativa de eleger dois deputados federais e três estaduais. É na perspectiva de aumentar a bancada federal que a filiação de Felipe Camarão, atualmente filiado ao Democratas, será bem-vinda.
Sobre o apoio a Eduardo Braide, o deputado diz que o PT estava à vontade. “Até porque quem deveria ter um compromisso maior em apoiar a candidatura do Duarte eram as lideranças de outros partidos, como o próprio PDT, devido a compromissos que tinham feito anteriormente”.
Com um petista indicado na Secretaria de Governo do município de São Luís, Zé Inácio diz ainda que um dos motivos que levou o seu grupo a apoiar o candidato do Podemos foi, e ainda é, a inusitada possibilidade de Braide ser mais uma liderança também do estado, “que possa vir a apoiar o presidente Lula”.
A entrevista ao D98 foi concedida pelo parlamentar através do aplicativo Zoom na última sexta (29).
Diário 98: A anulação da condenação do presidente Lula revelou uma conspiração das elites para não deixar que ele disputasse as eleições de 2018 contra Bolsonaro. O senhor acredita que ele sairá candidato em 2022? Não haverá outro golpe?
Zé Inácio: A decisão do Supremo que garantiu o direito de elegibilidade ao Lula mudou todo quadro político nacional. Não vejo instrumentos jurídicos que possam modificar essa decisão até o ano que vem, até as convenções que vão indicar o Lula candidato pelo Partido dos Trabalhadores, representando o campo político da esquerda e dos partidos progressistas. A conjuntura política nacional é muito diferente daquela conjuntura política pós o impeachment de 2016. Com a cassação da presidenta Dilma se instaurou uma perseguição, uma criminalização dos partidos de esquerda, do movimento social e em particular ao PT, perseguindo juridicamente o presidente Lula; que teve como consequência a decisão da República de Curitiba que acabou condenando o presidente Lula e ele teve que passar é 580 dias na prisão mesmo sendo inocente, como foi reconhecido pelo STF.
Diário 98: Mas as mesmas forças que deram apoio à República de Curitiba, como o senhor fala, continuam em busca de um candidato…
Zé Inácio: A conjuntura política é outra. Não temos mais a conjugação de fatores que possam a vir a estabelecer um processo jurídico de exceção tão célere como o ocorrido anteriormente às eleições 2018, visando tirar Lula do processo eleitoral. Não considero que tenhamos um contexto jurídico, político e midiático que venha favorecer isso, a conjuntura é outra.
Leia também: “Flávio Dino é o único capaz de unir grandes lideranças”, diz Netinho de Paula
Diário 98: O PT maranhense é divido para além das diferenças internas comuns a qualquer partido. Embora o Maranhão tenha proporcionado uma das maiores votações a Haddad em 18, o PT no estado só conseguiu eleger um deputado estadual e outro federal. Como explicar que um partido que tem a maior liderança popular da política brasileira, que é o presidente Lula, seja tão inexpressivo eleitoralmente no estado?
Zé Inácio: O PT do Maranhão precisa construir um ambiente político de maior unidade para que possamos ter projetos políticos, não só com o objetivo de fortalecer o PT nos parlamentos tanto municipal, estadual como também na Câmara Federal. Um projeto político que possamos olhar para frente com a perspectiva de também, assim como em outros estados próximos, como o Pará e o Piauí, possamos governar o estado.
“Não temos mais a conjugação de fatores que possam a vir a estabelecer um processo jurídico de exceção tão célere como o ocorrido anteriormente às eleições 2018, visando tirar Lula do processo eleitoral”.
Diário 98: As diferenças internas não são o motivo da estagnação do PT no Maranhão?
Zé Inácio: Não é somente esse o motivo, que fez com que o PT no Maranhão não avançasse na construção de um projeto político que o partido pudesse ser muito mais forte.
Acho que o interesse em torno do projeto nacional de 2002 pra cá, somado à política ampla de aliança que foi feita pelo PT naquela conjuntura para garantir que o presidente Lula fosse eleito faz com que o interesse nacional se sobreponha ao interesse dos estados e em função disso, e aí com a figura que representa o Sarney, com a força à nível nacional, a importância do PMDB nessa relação nacional com o PT, fez com que os interesses regionais do partido fossem colocados em segundo plano. Em outros estados, por exemplo, nós tínhamos lideranças com potencial de disputar cargos majoritários, mas por conta do projeto nacional, essas lideranças não puderam sequer ser candidatas. A política nacional acabou refletindo fortemente na organização interna do PT no estado e isso reflete até hoje.
Diário 98: O senhor falou sobre um projeto de unidade para que o partido possa olhar para frente. Nesse sentido, quais os planos do PT para 22?
Zé Inácio: Em primeiro plano se dá a retomada do projeto nacional a partir da eleição do presidente Lula. A eleição de Lula está em primeiro plano, isso para o PT de um modo geral. O segundo objetivo do partido no plano nacional é eleger o maior número possível de deputados federais e depois, logicamente, eleger governadores onde nós governamos para que a gente possa manter alguns estados governados pelo PT.
Diário 98: Mas no caso do Maranhão?
Zé Inácio: Ora, se a nossa prioridade é eleger o presidente Lula, o contexto aqui não nos cabe uma candidatura própria. O importante é termos uma aliança e palanques para garantir a vitória das forças progressistas representadas pela candidatura de Lula.
Diário 98: Quer dizer, então, que o PT não terá candidatura majoritária?
Zé Inácio: Não temos perspectiva de lançar candidato a governador, mas podemos realizar debate com o objetivo de participar da chapa majoritária. Considerando que fazemos parte da base liderada pelo governador Flávio Dino, há uma possibilidade de candidatura a vice ou de composição na chapa de Senado.
“O meu compromisso como deputado da base, como liderança do PT na Assembleia Legislativa é o compromisso de construir e fazer a defesa da unidade que será liderada pelo governador Flávio Dino”
Diário 98: Em relação a 22, até o momento, a base do governador Flávio Dino tem dois candidatos ao governo. O senador Weverton Rocha (PDT) e o vice-governador, Carlos Brandão (PSDB). Na sua opinião, no caso de não haver candidatura única, qual dos dois deve receber o apoio do PT?
Zé Inácio: O meu compromisso como deputado da base, como liderança do PT na Assembleia Legislativa, é o compromisso de construir e fazer a defesa da unidade que será liderada pelo governador Flávio Dino. Então, acho que não é correto o PT se antecipar na direção de um ou outro candidato. Nós temos que fazer a defesa do discurso que o governador Flavio Dino tem feito que é buscar a unidade entre todos os partidos da base. Acredito nessa unidade e na possibilidade de termos um candidato único. Se a conjuntura apontar um outro caminho, vamos avaliar com base no momento conjuntural que exigir nossa posição.
Diário 98: Ainda sobre essas duas candidaturas. Há o Carlos Brandão que é do PSDB, um adversário histórico nacionalmente do PT; e Weverton que é do PDT, não o partido, mas tem a figura do Ciro Gomes, que é quem hoje mais bate, inclusive de maneira grosseira, no presidente Lula. O senhor acha haverá dificuldade em apoiar algum desses dois candidatos, no caso de candidatura única?
Zé Inácio: Tanto um, como outro. O que vamos exigir desse candidato é que ele apoie o nosso candidato a presidente, o Lula. Qualquer que seja o candidato, se apoiar o Lula, eu não vejo nenhum problema.
“Quem deveria ter um compromisso maior em apoiar a candidatura do Duarte eram as lideranças de outros partidos, como o próprio PDT, devido a compromissos que tinha feito anteriormente”
Diário 98: No segundo turno das eleições municipais, o seu grupo apoiou Eduardo Braide (Podemos) contra a candidatura apoiada pelo governador Flávio Dino, Duarte Jr.(Republicanos). Isso não foi um sinal de apoio ao PDT, do senador Weverton, que liderou o movimento contrário ao ex-presidente do Procon, que à época era do mesmo partido do vice-governador Brandão?
Zé Inácio: Não, não porque quando nos manifestamos publicamente através de documentos dissemos que nenhum nos dois candidatos era do nosso espectro ideológico da esquerda. Então, apoiar um ou outro candidato do ponto de vista mais ideológico não fazia diferença. Em segundo lugar, reafirmamos que estaríamos com o candidato apoiado pelo governador Flávio Dino em 2022 e a decisão do nosso grupo político foi mais uma questão de arranjo das relações políticas.
O contexto das eleições de 2020 foi atípico, já que a base do governador teve várias candidaturas e nós ficamos à vontade. Até porque quem deveria ter um compromisso maior em apoiar a candidatura do Duarte eram as lideranças de outros partidos, como o próprio PDT, devido a compromissos que tinham feito anteriormente.
Diário 98: O Zé Inácio hoje, vice-líder do governo na Assembleia Legislativa, é o mesmo Zé Inácio que no ano passado apoiou a candidatura de Eduardo Braide contra a candidatura apoiada por Flávio Dino? O que mudou?
Zé Inácio: Acho que mudou muito mais o olhar do governo. Sou o mesmo Zé Inácio de 2015, quando assumimos o primeiro mandato na ALEMA. Sempre nos colocamos não só na base do governo, como defendendo e votando em matérias de interesso do governo. Esse olhar diferente nessa relação foi muito mais por parte do governo do que do Zé Inácio. Acredito que o governo começou a enxergar o Zé Inácio que é um militante de um partido importante, que tem uma concepção ideológica de esquerda e tem sua independência política e defende aquilo que acredita. Aliado que sabe defender os aliados.
Diário 98: O PT foi fundamental na vitória de Eduardo Braide em 20?
Zé Inácio: Primeiro que eu acho que fundamental foi o apoio do PDT e das lideranças que são ligadas ao senador Weverton Rocha. Eles foram fundamentais no que diz respeito a definição das eleições. Nosso movimento foi mais no sentido de fazer um gesto a uma liderança que já tínhamos uma relação na Assembleia, quando liderava nosso bloco, com o objetivo de olhar para 2022. Tínhamos naquele momento, e ainda acreditamos nessa possibilidade, que o Braide pode ser uma liderança também do estado, que possa vir a apoiar o presidente Lula.
Diário 98: O partido faz parte da nova gestão municipal?
Zé Inácio: Nós temos uma pessoa do nosso agrupamento político que integra a gestão. Uma indicação do grupo político, O Zé Antonio Helluy que está vinculado à Secretaria de Governo.
Diário 98: O Secretário de Educação, Felipe Camarão, que atualmente está no DEM, tem dado sinais que pretende se filiar ao PT. Ele seria bem-vindo?
Zé Inácio: Quanto a filiação ao PT, indico sempre que as lideranças conversem com o deputado federal José Carlos, ele deve ser ouvido, consultado. Ele é a pessoa que tem maior interesse em formar uma chapa e ampliar a bancada. Nacionalmente nós temos o projeto de ampliar a bancada do PT, a nova legislação nos favorece por sermos um partido nacionalmente organizado. Nossa meta é eleger 100 deputados federais e para isso precisamos aumentar a bancada no Maranhão. Diante disso, acredito que precisamos ampliar nossa chapa. O Felipe Camarão e outras lideranças que estão dialogando com o PT serão bem vindos.
Diário 98: E os seus planos para 22?
Zé Inácio: Sou candidato à reeleição e estou trabalhando para que nós tenhamos não só o fortalecimento da chapa de deputado estadual, com o projeto de eleger três deputados. Nesse contexto, caso tenhamos algo em torno de 300 e 350 mil votos conseguimos eleger dois deputados federais.