O governo do Maranhão deu mais uma demonstração de como o poder público pode ser manipulado quando o interesse em jogo é familiar. Após a circulação de fotos do secretário Orleans Brandão, sobrinho do governador Carlos Brandão, o Palácio dos Leões reagiu de forma imediata e nada republicana, publicando uma portaria que concedeu “férias” retroativas de quatro dias ao herdeiro político, justamente no período em que ele já estava fora do expediente.

A publicação, assinada pelo próprio governador, parece ter um único propósito: dar aparência de legalidade a uma ausência que, para qualquer outro servidor, seria falta grave. O ato é mais que um erro administrativo. É uma manobra consciente para transformar uma viagem particular em descanso oficial, com o Diário Oficial do Estado servindo de álibi.

A legislação maranhense não ampara esse tipo de manobra. A Lei 6.107/1994, que rege os servidores públicos estaduais, prevê trinta dias de férias anuais, com possibilidade de acumulação apenas em casos excepcionais e mediante justificativa de interesse público. Nada no texto autoriza o fracionamento em três ou quatro dias, tampouco a concessão retroativa de férias. A prática viola o princípio da legalidade e afronta a moralidade administrativa, pilares da Constituição que parecem cada vez mais flexíveis no Maranhão governado por Brandão.

O caso ganha contornos ainda mais escandalosos porque, enquanto o Estado vive dias de medo, com escolas fechadas e a população acuada pela violência, o sobrinho do governador e outro secretário, Vinícius Ferro, também integrante do círculo familiar, aproveitavam o conforto de Fernando de Noronha. As imagens, em contraste com a realidade maranhense, soam como uma provocação.

Em vez de concentrar esforços em enfrentar a crise na segurança pública, o governo se mobilizou para proteger um parente exposto. É o retrato de um poder que opera para dentro, que usa o Estado como escudo pessoal e familiar. O servidor comum que se ausenta do trabalho é punido. O sobrinho do governador ganha férias fabricadas no Diário Oficial.

Não há tecnicismo capaz de esconder o que aconteceu. Houve uma tentativa deliberada de transformar o aparato estatal em instrumento de conveniência. O resultado é o mesmo: o descrédito do governo e o fortalecimento da percepção de que, no Maranhão, as leis valem de um jeito para os Brandão e de outro para o restante da população.

A cena resume o espírito da gestão. Quando o poder é familiar, o público se torna privado e o Diário Oficial se transforma em manual de desculpas. Carlos Brandão não apenas assinou férias retroativas. Assinou, mais uma vez, o atestado de que o Maranhão é governado como uma extensão de sua própria casa.