Rodovia MA-372, orçada em R$ 280 milhões, passa ao lado das propriedades da família Brandão e levanta debate sobre uso de recursos públicos em benefício privado. Obra é bancada com empréstimo do Banco do Brasil e tem aval da União.

Enquanto muitas regiões do Maranhão ainda enfrentam problemas crônicos com ruas esburacadas, estradas vicinais intransitáveis e falta de infraestrutura básica, a maior obra da gestão do governador Carlos Brandão (PSB) avança em ritmo acelerado no sertão maranhense — e com um trajeto que liga diretamente as fazendas da sua própria família.

Trata-se da rodovia MA-372, uma pavimentação de R$ 280 milhões, bancada por um empréstimo do Banco do Brasil com garantia da União, e celebrada como o maior projeto de infraestrutura da atual gestão estadual.

Rodovia passa na porta do império agrícola da família Brandão

A estrada liga os municípios de São Domingos do Azeitão e Mirador, justamente onde a família Brandão vem expansão acelerada de terras para produção de soja e arroz. Segundo levantamento do jornal Estadão, publicado em 29 de julho de 2025, o “Grupo Brandão” adquiriu mais de 7,6 mil hectares na região, instalando galpões, silos e até uma pista de pouso privada dentro das propriedades.

Além disso, a família conseguiu R$ 58 milhões em financiamentos agrícolas, boa parte no mesmo período em que a rodovia foi planejada e licitada. A obra, por sua vez, passa colada nas terras do grupo, com placas indicando a curta distância até a sede da fazenda.

Governo admite benefício, mas diz que obra é coletiva

Questionado, o governo do Maranhão reconheceu que as terras da família do governador são atendidas pela rodovia, mas rebateu críticas alegando que outros produtores da região também serão beneficiados.

“Ela não passa apenas por propriedade da família Brandão”, afirmou a assessoria.
“Todos os municípios produtores de grãos vão economizar cerca de 130 quilômetros para chegar ao Porto do Itaqui, isso vai alavancar o desenvolvimento da região como um todo”, disse o governador durante evento em Mirador, em abril de 2024.

Fazenda com pista de pouso e contratos pagos em soja

A reportagem do Estadão revela ainda que a família Brandão triplicou o tamanho das propriedades na região nos últimos anos. As aquisições incluíram negócios com pagamento em contratos futuros de grãos, ou seja, parte da produção agrícola futura da fazenda serve como moeda de troca na compra de novas terras.

A empresa Coagri, que centraliza os negócios familiares, é administrada por irmãos do governador e já concentra mais de 22 mil hectares de terras no Maranhão. Um dos sócios é Daniel Itapary Brandão, conselheiro vitalício do Tribunal de Contas do Estado, filho de José Henrique Brandão, também sócio da agropecuária.

Uso da máquina pública em benefício próprio?

Apesar de o governo reafirmar a legalidade da obra, a coincidência entre a expansão do império agrícola da família e o traçado da MA-372 levanta questionamentos éticos sobre o uso da máquina pública para favorecer negócios privados.

A rodovia, sozinha, consome cerca de 75% do orçamento estadual de investimentos para 2025. A pavimentação do trecho em área estratégica para a família acende um alerta sobre prioridades administrativas e possíveis conflitos de interesse.

O governo classificou a repercussão negativa como “deturpada e com conotação política”, mas não negou os vínculos entre a estrada e os interesses familiares.