
Higo Sousa, Graduando em Ciências Sociais UFMA e Especialista em Marketing Politico
Carlos Brandão repete em discursos que é aliado do presidente Lula. Mas na prática, suas ações revelam um caminho bem diferente e cada vez mais distante do campo progressista que o elegeu.
Desde que assumiu o governo do Maranhão, Brandão promoveu um afastamento sistemático de aliados históricos de Flávio Dino e do próprio Lula. Felipe Camarão, Márcio Jerry, Rodrigo Lago e Carlos Lula foram sendo esvaziados, apesar de representarem o núcleo mais fiel ao campo de esquerda no estado. Em seus lugares, ganharam espaço nomes do bolsonarismo maranhense: Mical Damasceno, Maura Jorge, Aluísio Mendes e Yglésio Moyses. Todos com histórico público de oposição a Lula e ao PT.

Não é surpresa. Brandão sempre orbitou em campos ideológicos conservadores. Foi filiado ao PSDB, símbolo da oposição ao lulismo por duas décadas, e ao Republicanos, legenda da base bolsonarista. Sua entrada no PSB, partido de centro-esquerda, soa mais como conveniência do que como convicção política.

Enquanto isso, seu herdeiro político, Orleans Brandão, é envolvido em rumores de ter pedido votos para Bolsonaro em 2018, inclusive vestindo a camiseta amarela com o rosto do ex-presidente, o que nunca foi desmentido de forma clara. Hoje, Orleans aparece como pré-candidato ao governo, carregando nas costas o peso de um projeto que mistura coronelismo, latifúndio e a redição de uma oligarquia
Falando em latifúndio: a família Brandão é conhecida por ser uma das maiores detentoras de terras do Maranhão. Com Brandão no poder, expandiu-se a malha viária que liga suas propriedades — conhecidas ironicamente como “TransBrandão” — enquanto diversas comunidades rurais seguem abandonadas. Isso não é gestão para o povo. É a reprodução de um velho modelo coronelista, incompatível com as pautas progressistas que Lula e a esquerda historicamente defendem.
E se havia alguma dúvida sobre de que lado Brandão está, as últimas movimentações esclarecem tudo. Nesta semana, o União Brasil e o PP — partidos que compõem o bloco da direita no Congresso e que, segundo o próprio ACM Neto, estão deixando o governo Lula — oficializaram apoio a Orleans Brandão. Fufuca e Pedro Lucas Fernandes, expoentes desses partidos, devem ser os senadores da chapa. Pedro Lucas, vale lembrar, foi o deputado que disse não a Lula.
Mais grave é o fato de que, mesmo após a vitória de Lula, Brandão segue adotando como carro-chefe de sua política educacional as chamadas escolas militares, enquanto os Iemas estão abandonados e muitos alunos, sem escola, assistem aulas on line. As escolas militares são defendidas com entusiasmo por Jair Bolsonaro e já rechaçadas pelo governo federal.
É no mínimo contraditório que alguém que se diz aliado de Lula adote políticas públicas contrárias a diretriz do presidente e aceite, com naturalidade, dividir palanque com partidos que sabotam o governo federal diariamente em Brasília.
A pergunta que fica é simples: até quando Carlos Brandão continuará dizendo que está com Lula, enquanto faz exatamente o contrário?