Não se pode tratar como algo aceitável que um deputado estadual vá à tribuna da Assembleia Legislativa para defender que o governador indique o sobrinho como seu sucessor. Isso não é apenas antidemocrático — é uma afronta à ideia de república, ao princípio da impessoalidade e ao sentido ético da política.
A defesa feita por Neto Evangelista não é casual. Ele mesmo é herdeiro político: filho do ex-deputado José Evangelista. Sua trajetória, como a de tantos outros na Assembleia, é parte de um ciclo vicioso em que cargos públicos são repassados entre pais, filhos, esposas, sobrinhos, primos e apadrinhados. A política maranhense tornou-se, ao longo dos anos, um sistema de castas travestido de democracia.
A ciência política ensina que a república é, por definição, o regime onde o bem comum prevalece sobre interesses privados. Onde o poder deve emanar do povo — não da árvore genealógica. Quando um governador cogita lançar o próprio sobrinho como sucessor, estamos diante de um processo de feudalização do Estado. Voltam os tempos de capitanias hereditárias. É a oligarquia em sua forma mais explícita e perversa.
O Maranhão conhece bem esse enredo. Foram décadas sob o domínio do grupo Sarney, com forte alicerce no patrimonialismo e no uso da máquina pública como bem de família. A promessa era de ruptura. Mas a prática insiste em repetir os mesmos padrões.
Política não é herança. Cargo público não é testamento. E o povo do Maranhão merece mais do que um arranjo familiar para decidir quem governa o Estado. O futuro do nosso povo não pode ser entregue nas mãos de parentes.
É hora de dizer: não ao continuísmo familiar, não à política de sobrenomes e não à banalização das instituições.
Não é normal. Não pode ser normal. Neto Evangelista reforça o continuísmo familiar na política maranhense.