Em uma entrevista ao jornal O Globo, o governador do Maranhão, Carlos Brandão, expôs as nuances de suas relações políticas, marcadas por um distanciamento do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino e uma guinada politica que o colocou ombreado com a família Sarney, antigos adversários. Apesar do tom formal, as declarações de Brandão revelam uma estratégia política pragmática, que não hesita em revisar alianças e priorizar interesses.
O esfriamento com Flávio Dino
Brandão e Dino já foram aliados próximos, com o atual governador atuando como vice-governador durante dois mandatos de Dino no Maranhão. No entanto, o relacionamento entre os dois esfriou significativamente após a ascensão de Dino ao STF. Brandão afirmou que deixaram de conversar nesse período, sugerindo que a distância foi agravada por um grupo de deputados próximos a Dino que se distanciaram do governo estadual. “Quando tem muita interferência, começa a ter problema”, declarou Brandão, em uma crítica velada ao ministro.
O governador também expressou insatisfação com uma decisão do STF que suspendeu uma indicação de seu governo ao Tribunal de Contas do Estado (TCE). Brandão classificou a interferência do Judiciário como prejudicial ao funcionamento da instituição e lamentou que o assunto tenha chegado ao Supremo. Ele admitiu ter tentado dialogar com Dino para resolver a questão, mas as tentativas não prosperaram, evidenciando um rompimento que, embora não declarado oficialmente, parece irreconciliável.
A aproximação com os Sarney: uma aliança conveniente
Se o distanciamento de Dino chama a atenção, a aproximação com a família Sarney é ainda mais emblemática. Brandão disputou ao lado de Dino duas eleições contra os Sarney: em 2014, contra Lobão Filho, e em 2018, contra Roseana Sarney. No entanto, em 2022, o governador surpreendeu ao se aliar ao grupo do ex-presidente José Sarney, um movimento que muitos interpretam como uma jogada estratégica para consolidar seu poder no estado.
“Hoje estamos muito próximos”, afirmou Brandão, destacando que integrantes do MDB, partido dos Sarney, participam de seu governo. Ele também ressaltou que seu irmão, Marcus Brandão, assumiu a presidência do partido no estado, em um claro sinal de que a aliança vai além de meros acordos superficiais. Essa mudança de postura em relação aos Sarney, antigos rivais, levanta questionamentos sobre a consistência das convicções políticas de Brandão, que parece priorizar a conveniência em detrimento de princípios ideológicos.
É preciso esquecer que foi governador”
Em um momento revelador, Brandão fez um comentário direcionado a Flávio Dino: “Acho que, depois de governar, é preciso esquecer que foi governador. Quando tem muita interferência, começa a ter problema”. Essa frase parece resumir a insatisfação de Brandão com o que ele vê como uma interferência excessiva de Dino, agora no STF, em assuntos do governo estadual. Para Brandão, o ex-governador deveria deixar o passado para trás.
O futuro político de Brandão
Questionado sobre seus planos para 2026, Brandão não descartou a possibilidade de se candidatar ao Senado, mas preferiu não antecipar decisões. “Se antecipar a discussão, as pessoas ficam focadas na política e não enxergam suas entregas”, afirmou, em uma tentativa de desviar o foco de suas ambições pessoais. No entanto, é difícil ignorar que o governador já está se posicionando para o próximo ciclo eleitoral, inclusive ensaiando a possibilidade de lançar seu sobrinho Orleans Brandão para ser o novo mandatário dos Leões.
Pragmatismo acima de tudo
As declarações de Carlos Brandão revelam um político disposto a revisar alianças e priorizar interesses em detrimento de convicções ideológicas. Seu distanciamento de Flávio Dino e a aproximação com os Sarney ilustram uma estratégia que privilegia a conveniência, em um cenário político marcado por constantes mudanças. Resta saber se essa postura pragmática será suficiente para garantir seu futuro político em um ambiente cada vez mais imprevisível.
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