É isso mesmo que você leu. A pequena São Bernardo, no Maranhão, cidade pacata e de poucos habitantes, acaba de cravar o nome nos principais portais de notícia do país. Destaque no G1, na Globo News e em outras manchetes nacionais, São Bernardo se tornou exemplo do que não fazer com dinheiro público, especialmente quando esse dinheiro é destinado à saúde.
Tudo começou com um pente-fino do Ministério Público Federal (MPF), que encontrou um esquema de fraude com as “emendas PIX” – aquelas transferências de verbas públicas que, nos últimos anos, têm corrido livres, leves e soltas, sem o mínimo de transparência. A investigação, pedida pela 5ª Câmara de Coordenação e Revisão da Procuradoria-Geral da República (PGR), apontou irregularidades gritantes no envio e uso de emendas parlamentares que deveriam ir para a saúde pública, mas acabaram em qualquer outro lugar, menos onde deveriam.
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E o que São Bernardo fez para merecer tanta atenção? Fácil: inflacionou o valor dos repasses de saúde, usando dados falsos que transformaram o sistema de saúde local em uma fábrica de números superdimensionados. Em 2021 e 2022, o município de cerca de 28 mil habitantes recebeu R$ 11 milhões, dinheiro que, em teoria, seria destinado a consultas de média e alta complexidade. Mas, para usar todo esse valor, cada morador teria que fazer dois procedimentos complexos – por ano! Isso sem contar que a prefeitura teria de registrar absurdas 2 mil consultas por mês. Um número surreal para qualquer cidade desse porte.
E as fraudes não param por aí. O secretário de Saúde da época chegou a admitir à Controladoria-Geral da União (CGU) que esses números eram pura fantasia, mas isso não impediu o repasse. Agora, o MPF quer de volta o dinheiro e exige controle rígido sobre os dados que São Bernardo insere no SUS. Quer evitar que a cidade se transforme, mais uma vez, em uma “máquina de emendas”.
Por que isso importa? Porque o escândalo de São Bernardo não é um caso isolado; ele expõe um padrão que pode estar se repetindo por outros cantos do país. É o mesmo modus operandi de sempre: superfaturamento, repasses inflados e aquela velha sensação de impunidade que parece um fantasma a rondar cada emenda mal usada. O município, que deveria estar cuidando de sua gente, preferiu alimentar esquemas.
Ao ver um município como São Bernardo exposto na mídia nacional, com manchetes que deveriam nos envergonhar, só resta torcer para que as autoridades vão a fundo nessa investigação e deem o exemplo. Não para o povo maranhense, que já sabe bem como o dinheiro público é tratado, mas para aqueles que ainda acreditam que podem usar e abusar do orçamento secreto e das emendas PIX sem consequências.