Seguindo o detalhamento dos municípios maranhenses denunciados em reportagem da Revista Piauí, algo chama atenção: as prefeituras indicaram aumento de mais de 1000% nos atendimentos de saúde em relação ao ano anterior.
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De 2018 para 2019, o município de Bom Lugar, que nem tem hospital, aumentou em 1.300% seus procedimentos de alta e média complexidade. O município de Paulo Ramos também registrou aumento de 1.300%. De 2019 para 2020, a cidade de Luís Domingues saltou 39.000%. No município de Governador Luiz Rocha, foram 12.500%.
Considerando o período que vai de 2019 a 2021, o esquema virou uma epidemia. Nesse período, 66 cidades maranhenses registraram, pelo menos uma vez, um aumento anual de 500% ou mais no número de procedimentos MAC. Trinta delas aumentaram mais de 1.000%.
A conexão entre Brasília e as prefeituras maranhenses opera com eficiência quase automática: no momento em que o novo limite sobe, o total das remessas sobe junto. Bacuri, 18 700 habitantes, inflou seus gastos de 394 mil reais para 7,5 milhões no ano passado.
Registrou tantas consultas com especialistas – 954 mil no total – que cada habitante teve direito a uma consulta por semana. O fato é que o superfaturamento de dados em 2021 já rendeu seu prêmio nas liberações do orçamento secreto feitas em junho: caíram 7 milhões de reais na conta da prefeitura de Bacuri.
Em alguns casos, a conexão se dá por laços sanguíneos – e com a mesma eficiência.
A prefeitura de Miranda do Norte registrou um aumento excepcional de atendimentos (de 95 mil para 1,1 milhão) em 2021 e elevou seu teto (de 1,1 milhão de reais para 10 milhões) para o ano seguinte. Na leva de liberações ocorridas em junho, a prefeitura gabaritou: recebeu 10 milhões de reais, acertando na mosca o novo limite.
De certo modo, foi uma operação doméstica. Angélica (PL), prefeita de Miranda do Norte, é mãe do deputado federal Junior Lourenço (PL-MA), que, por sua vez, é um dos autores das emendas que chegaram aos 10 milhões.
O senador Weverton Rocha, indagado pela reportagem sobre a relevância do seu estado nas emendas, festejou: “Fico feliz de saber que houve aumento de repasses para o Maranhão, e acho que isso reflete um trabalho bem-feito de todos os parlamentares em busca de recursos para o nosso estado que é muito pobre e precisa muito.”
Informado sobre os números exorbitantes de atendimentos nos municípios, voltou a festejar – “se houve aumento de procedimentos também considero isso um dado positivo” – e eximiu-se: “Quem determina o teto do que cada município recebe é o Ministério da Saúde, que também é o responsável por fazer as aferições e validações do valor pago mensalmente.”