Em entrevista ao Diário 98, o líder da Oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB-RJ) avaliou que o presidente Jair Bolsonaro não tem condições de comandar o país e o impeachment é uma possibilidade real. Questionado se o PSB terá candidato presidencial ano que vem para pôr fim à política negacionista de Bolsonaro, Molon afirma que já há uma pluralidade de nomes progressistas e que mais um candidato apenas dividirá esse campo.
Além de Molon, o governador do Maranhão, Flávio Dino, e o deputado federal Marcelo Freixo são as aquisições mais recentes do PSB. Dino deixou o PCdoB com o seu nome figurado para concorrer à Presidência, até que o maranhense decidiu que concorrerá ao Senado. O deputado Marcelo Freixo deixou o PSOL e hoje lidera o grupo da Minoria, bloco de oposição na Câmara ao governo Bolsonaro e projeta candidatura ao governo do Rio de Janeiro.
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Molon delineia um PSB do futuro voltado à defesa do meio ambiente, do desenvolvimento sustentável e em atenção às mudanças climáticas. “Eu acho que é sim [o PSB] a aposta da esquerda para o futuro”, afirmou.
Molon não abandonou a ideia de uma frente ampla para recapturar as forças democráticas do país. O líder da Oposição defende um entendimento entre segmentos da esquerda, do centro democrático, e até mesmo entre “conversadores comprometidos com a democracia”. “Acho que nós temos que ter responsabilidade com o grave momento pelo qual o Brasil passa“, alerta.
Confira abaixo os principais pontos da entrevista:
D98: Flávio Dino no PSB. Qual o significado dessa filiação pro partido?
Alessandro Molon: É a aquisição de um grande quadro político. Alguém que vem reforçar o nosso time, que está na luta contra o desgoverno Bolsonaro.
O governador Flávio Dino já foi deputado federal e é governador. Ele vem exercendo um governo que é cheio de qualidades, um orgulho pro Brasil no enfrentamento da Covid, por exemplo, mas também em várias outras áreas. O governo do Maranhão tem sido um exemplo para outros governos. Então a vinda dele para o PSB é um orgulho pro PSB, e ao mesmo tempo um reforço importante para o nosso time.
É como um time de futebol contratar um craque para enriquecer o time e para jogar ainda melhor no campeonato.
O PSB se afastou do PT na época do governo da presidente Dilma. O senhor acredita que o diálogo foi aberto com a volta do ex-presidente Lula ao tabuleiro?
Acho que o diálogo já havia sido reaberto até antes disso.
Em 2019, eu tive a honra de ser líder da Oposição na Câmara e trabalhamos junto com o Partido dos Trabalhadores na oposição ao governo Bolsonaro, e também quando fui líder da bancada do PSB. Trabalhei também em sintonia com a liderança da Minoria, quando ela foi liderada pelo José Guimarães (PT-CE).
E por fim, agora novamente como líder da oposição, indicado inclusive para esse cargo pelo PT, entre outros partidos que me apoiaram. Então o diálogo já vinha sendo retomado, as portas já vinham sendo reconstruídas. E, portanto, esse processo não é de agora, mas anterior.
O PSB terá candidato próprio à Presidência em 2022?
Isso ainda não foi decidido pelo partido, mas eu não vejo esse como o cenário mais provável. A preocupação central do PSB não é consigo mesmo. É com o Brasil. De que maneira podemos contribuir para ajudar o Brasil a se reencontrar.
E nos parece que diante da pluralidade de quadros progressistas como pré-candidatos, não faria sentido o PSB apresentar mais um nome para dividir ainda mais as forças progressistas.
Por essa razão eu acredito que o PSB vai continuar trabalhando para aquilo que vem trabalhando, que é a ampla unidade das forças progressistas, e, até mais além, as forças democráticas, para que tenhamos uma frente de fato Ampla, que possa ajudar a derrotar Bolsonaro, e portanto, reconstruir o futuro do Brasil que nesse momento se encontra destruído.
O senhor saiu do PT para o PSB. Freixo saiu do PSOL também para o PSB. O governador Flávio Dino saiu do PC do B e foi para o PSB. Três partidos diferentes com o mesmo destino. O PSB é a aposta da esquerda para o futuro?
Eu acredito que sim. Eu acredito que o PSB é a aposta da esquerda para o futuro.
Eu acho que é um partido moderno, é ao mesmo tempo um partido com história. Um partido que nasceu em 1947 como uma alternativa progressista comprometida com a democracia.
Naquele momento, a visão que predominava na esquerda era a visão de que para a construção do socialismo o caminho era a revolução pela força das armas. E o PSB nunca acreditou nisso.
O PSB teve como seu primeiro nome, antes de se chamar PSB, de Esquerda Democrática. E depois quando ele adota o nome de PSB ele adota como lema Socialismo e Liberdade, ou seja, dizendo que não há caminho para o socialismo que não passe pela liberdade, pela democracia e não por qualquer tipo de ditadura que nós repudiamos.
Então acho que é um partido que tem essa história bonita, que teve grandes quadros como Miguel Arraes, Eduardo Campos, Antônio Houaiss, Jamil Haddad, Evandro Lins e Silva, Evaristo de Moraes Filho, Antônio Cândido, enfim tantos nomes, mas ao mesmo tempo o partido que tem um grande futuro pela frente.
Eu acho que é sim [o PSB] a aposta da esquerda para o futuro. Eu acho que é o partido que vai crescer cada vez mais, e ao mesmo tempo que projeta uma visão moderna de país, com compromisso, por exemplo, com a sustentabilidade, que é um tema muito atual, que não fazia parte das preocupações no momento em que o PSB foi fundado, mas hoje é um problema central. E o PSB tem isso no centro de seu programa.
O PSB tem boas relações com Ciro e com Lula. Como o senhor vê essa disputa pela hegemonia no campo progressista tendo como pano de fundo a ameaça fascista no Brasil?
Eu acho que nós não podemos colocar aquilo que nos divide, acima daquilo que nos une. Eu acho que não é hora de trocarmos agressões e ataques entre nós, e não é hora de colocar os projetos pessoais ou partidários acima dos interesses do Brasil.
Acho que o mais importante agora é a nossa unidade em torno da derrota do fascismo, da derrota de Bolsonaro e da construção de um modelo de desenvolvimento que gere emprego e renda para os brasileiros, que faça com que os jovens não tenham como seu principal sonho ir embora do Brasil, que reconstrua a relação do Estado e da iniciativa privada com o meio ambiente.
Um poder público que respeite as diferenças, que honre os direitos das minorias, portanto que valorize a diversidade, que permita que as pessoas construam para si as vidas que quiserem, os destinos que quiserem. Então, nós temos muitos desafios pela frente. Isso é o mais importante.
E não o que é melhor pro partido A ou B, ou para liderança C, D, ou pro projeto partidário ou político pessoal de qualquer um. Acho que nós temos que ter responsabilidade com o grave momento pelo qual o Brasil passa. É pra isso que o PSB vai trabalhar
O senhor acredita que o impeachment do presidente Jair Bolsonaro é uma possibilidade real?
Sim. Eu acredito que é uma possibilidade real. E até cada vez mais real. É claro que ele [impeachment] não tá dado. Ainda tem muita luta para que ele seja aprovado. Mas eu acho que nós estamos mais perto dele hoje do que estávamos há dois meses atrás.
A máscara do governo caiu. As pessoas descobriram que foram enganadas, que se trata de um governo corrupto, e que, portanto, não faz sentido continuar defendendo a face que acreditaram, e que levou muita gente a votar imaginando que seria um governo que combateria a corrupção. Nada mais equivocado, mas infelizmente muita gente foi enganada.
Então acho que com essa queda da máscara, mais brasileiros estão acompanhando o impeachment.
Hoje 54% dos brasileiros, segundo o Datafolha, apoiam o impeachment, e acredito que esse número tende a crescer porque as pessoas estão vendo que o Bolsonaro não tem a menor condição de governar o país. Por isso, eu acredito que seja uma possibilidade real e nós vamos lutar com todas as forças pra isso.
Qual a sua opinião sobre a reforma política? O senhor apoia o Distritão?
Não. Sou totalmente contrário ao Distritão, e acho que é uma proposta que destrói o sistema representativo. Eu acho que é uma proposta que representa um grande retrocesso, sob o engodo de que vai salvar os mandatos dos atuais deputados federais.
É uma tentação para alguns colegas, eu espero que ele seja derrotado. Eu acho que a reforma política que temos que fazer em relação ao sistema foi feita já na última legislatura, em que nós aprovamos uma cláusula de desempenho crescente e o fim das coligações proporcionais.
Agora é dar tempo ao tempo para que isso vá mudando o perfil do Parlamento. Outros avanços podem surgir, sou contra o Distritão e contra outros retrocessos que estão sendo propostos pelos deputados.
Qual o principal problema hoje do Brasil? E como sair dessa situação criada pelo governo Bolsonaro?
O principal problema do Brasil hoje é o governo. O governo Bolsonaro atrapalha o Brasil.
O Governo Bolsonaro sabotou o enfrentamento à pandemia. Não só não ajudou, mas atrapalhou. Estimulou aglomerações, desestimulou o uso de máscaras, reduziu a gravidade da doença e impediu a compra de vacinas. Não comprou e não deixou comprar. Então nós temos essa catástrofe que é mais de meio milhão de brasileiros mortos, com grande parte dessas mortes, podendo ter sido evitadas, poderiam ter sido evitadas.
Por outro lado, a incompetência do governo, a falta de um projeto faz com que o brasileiro sofre hoje com o desemprego, a inflação, a dificuldade de ter uma oportunidade para construir uma vida diferente.
Então os alimentos estão caros, os aluguéis estão caros e as pessoas não têm trabalho. Então há uma crise econômica e social forte também.
Mas a raiz de todas essas crises, da crise sanitária, da crise econômica, da crise social, é o agravamento da crise ambiental, que agrava por sua vez a crise climática. Tudo isso tem como matriz Bolsonaro, de forma que a coisa mais importante para o Brasil é se livrar desse governo para conseguir um outro horizonte do país.
Para derrotar Bolsonaro, qual a natureza dessa frente necessária?
Eu diria que a mais ampla possível. Meu sonho é que todos os democratas estivessem numa única chapa.
Que nós fossemos capazes de construir uma única chapa contra Bolsonaro. Que juntasse esquerda e centro democrático e até mesmo quem sabe alguns conservadores comprometidos com a democracia que deveriam estar nesse amplo palanque.
E esse palanque deveria ser construído em torno de compromissos muito básicos do que seriam os próximos quatro anos. A reconstrução da confiança no país, a reconstrução da liderança ambiental brasileira no exterior, a reconstrução da nossa política externa, a reconstrução da capacidade do Estado de agir como um agente indutor de setores econômicos e estratégicos.
E deixar os dissensos, aquilo que mais divide esse grupo, para os quatro anos seguintes. No outro mandato. Aí sim os democratas poderiam disputar separadamente as eleições. Disputando as suas propostas políticas em si.
Mas agora eu acho que seria hora de união. De unir todos em torno de um programa mínimo, uma grande frente democrática para derrotar o Bolsonaro. E livrar o país do retrocesso, do atraso, do obscurantismo e portanto do que há de pior nesse momento no Brasil. Essa que deveria ser a natureza dessa frente na minha opinião.