O senador e relator da CPI da Covid, Renan Calheiros, em conjunto com uma equipe técnica que o acompanha na comissão, apontam ao menos 12 contradições da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, a “capitã cloroquina”, no depoimento que ela concedeu nesta terça (25).
Em um ponto polêmico da audiência, foi revelado um áudio em que Mayra Pinheiro gravou criticando a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ao afirmar que a instituição tem um “pênis” em sua porta. A informação foi desmentida posteriormente por se tratar da logo de aniversário de 120 anos da Fundação.
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O áudio começou a circular entre gestores da área de saúde no início de maio do ano passado e teria sido gravado em 2019, sendo um exemplo do que pensa a dirigente. “Todos os tapetes das portas são a figura do Che Guevara, as salas são figurinhas do Lula Livre, Marielle Vive. É um órgão que tem um poder imenso, porque durante anos eles controlaram, através do movimento sanitarista, que foi todo construído pela esquerda, a saúde do País”, disse.
Durante depoimento, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) questionou Mayra Pinheiro se ainda pensa a “mesma coisa da Fiocruz”. Segundo ela, o áudio foi um resposta a um colega e ocorreu um vazamento. “Nesta época isso era uma constatação de fatos. Existia uma objetivo inflável em comemoração a uma campanha na porta da entidade”.
Veja abaixo a íntegra do documento a qual o Diário 98 teve acesso e que apontam as mentiras e contradições:
Tratamento precoce
Utilizado por profissionais médicos de todos os mundos, que oferecem assim que feito o diagnóstico.
Não há qualquer dado a esse respeito, sobretudo após a recomendação da OMS em sentido contrário ao uso de cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina.
Medicamentos para Covid
Notas Orientativas do Ministério da Saúdo, nº 9 e nº 17 apenas recomendam.
O documento “Plano Manaus”, assinado pelo Ministro Pazuello, diz textualmente que deve incentivar o tratamento precoce. O aplicativo TrateCov, por sua vez, indica expressamente o tratamento. A depoente, em ofício encaminhado à Secretaria de Saúde considera inadmissível não usar a cloroquina e demais remédios.
Pesquisas na área de infectologia
Não levou, enquanto secretária, informações ou experiências a respeito de estudos, pesquisas e publicações na área de infectologia.
Ao longo de todo o depoimento relembra suas experiências, pesquisas e informações.
Cloroquina
Assevera ser antiviral.
Mantém a orientação para uso de Cloroquina e Hidroxicloroquina.
A Cloroquina não é um antiviral nem um anti-inflamatório, e sim um antimalárico, utilizado em casos de malária, que é um protozoário, não um vírus.
OMS e Conitec recomendam não utilizar os medicamentos, porque inócuos ao tratamento.
TrateCOV
A plataforma foi retirada do ar porque foi hackeada e dados teriam sido irregularmente alterados. Ela mesma se contradisse, e contradisse Pazzuelo, ao afirmar que a plataforma foi retirada do ar, APENAS, para fins de investigação, sem que tenha havido deturpação (como declarou Pazzuelo) ou alteração (como ela mesma disse) da plataforma.
OMS e CONITEC
Levou em consideração os estudos e declarações a respeito do uso de cloroquina e hidroxicloroquina.
Usou e recomendou o uso, porque, segundo suas próprias declarações contraditórias, as recomendações da OMS e CONITEC foram baseados em estudos com qualidade metodológica questionáveis.
População pediátrica
Declara que 37,5% da população pediátrica tem menos chance de contrair a doença. E que todas deveriam ter continuado estudando presencialmente.
Desconsidera que, em todas as escolas, há presença de adultos. E, para piorar, não apresenta percentual de transmissão, de crianças para adultos.
Isolamento
Afirma que o isolamento causou mais pânico na cidade, atrapalhou a evolução natural da doença e impediu o efeito rebanho de imunização.
Contradisse sua declaração ao ser perguntada se teria conhecimento, recebido estudo técnico ou análise dessa tese e de seu impacto sobre a saúde pública, afirmando que NÃO RECEBEU.
Também afirmou que tal tese nunca foi cogitada pelo Ministério da saúde e que desconhece qualquer médico que defendesse igual teoria.
Comando do Ministério da Saúde
Declarou continuidade dos trabalhos desde a gestão Mandetta.
Contradisse sua afirmação ao afirmar os diferentes Ministros adotaram decisões diversas porque as necessidades quanto à pandemia teriam mudado ao longo do tempo.
Manaus
Afirma que conhecia previamente a situação e as características do sistema de saúde de Manaus, que já havia experimentado um colapso em abril e maio de 2020.
Há clara contradição quando declara que, somente esteve em Manaus entre 3 e 5 de janeiro, quando tomou ciência da realidade ali apresentada.
E, declara também que só se deslocou a Manaus em 3/1/21, para providências pertinentes, por ordem do Ministro Pazzuelo.
Oxigênio em Manaus
Seria impossível prever a quantidade de oxigênio a ser usada e a consequente falta do fornecimento.
Contradição com o que afirmou ao Ministério Público Federal: “é possível realizar esse cálculo a partir do prognóstico de hospitalizações, pois se estima a quantidade de insumo a partir do número de internados.
Encontro com o presidente da República
Respondeu ao Senador Renan Calheiros que nunca havia se encontrado com o presidente da República.
Em contradição, respondeu ao Senador Randolfe Rodrigues que encontrou-se uma única vez com o Presidente da República, no Ministério da Saúde.