Brasil
Foto de 22 de janeiro de 2021, de túmulo de uma vítima da Covid-19 no cemitério Nossa Senhora Aparecida em Manaus – (Foto: AFP/Arquivos)

Em artigo publicado nesta quarta-feira (12) no francês Le Monde – um dos jornais mais respeitados do mundo -, o ex-meio-campista do PSG e ex-diretor técnico do São Paulo, Raí Oliveira, acusa o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seu governo, a quem ele compara a uma praga, de impor um regime obscuro e um duplo flagelo ao Brasil: a crise sanitária sem precedentes e a ameaça à democracia.

Leia também: ‘Presidente foi negacionista e todo mundo sabe disso’, diz presidente da CPI da Covid

Mesmo sem mencionar nominalmente o mandatário, ao longo do texto é fácil apreender a quem Raí se refere. Crítico ferrenho do presidente de extrema direita, o ex-astro do PSG, afirma que o Brasil vive um momento sombrio, ao mesmo tempo em que os brasileiros enfrentam um outro mal, “muito mais mortal a longo prazo”.

“A Peste” no Brasil

Considerado um dos grandes ídolos dos torcedores de futebol da França, o ex-jogador inicia o texto pedindo desculpas ao escritor e prêmio Nobel de Literatura, Albert Camus, autor de “A peste”, a quem faz referência ao longo de todo o artigo, e também ao público, ao explicar o duplo a atual situação do país.

“Além da praga biológica – essa epidemia tão mal administrada que causou a mais grave crise de saúde da história do meu país –, estamos sofrendo de outro mal, muito mais mortal no longo prazo”, afirma o ex-jogador. “Um mal que nos isola diplomaticamente, um mal que atormenta insidiosamente a Amazônia e persegue quem a protege. Um mal que autoriza a mineração em reservas indígenas, e prefere árvores cortadas a árvores vivas. Um mal castrador das liberdades, que ameaça a democracia e reaviva a censura odiosa, promove a intolerância, a homofobia, o machismo, a violência”, prossegue. “Ao aprisionar nossa razão e nosso bom senso, ele nos destrói, incita o ódio, se apresenta como inimigo das artes e da cultura, humilha nossa consciência ao negar a ciência”, descreve.

Praga imposta pelo clã (Bolsonaro)

Depois de afirmar que os brasileiros precisam ‘resistir a essa praga brasileira que usa um terno escuro’, Raí também garante que o mal “é obra de um clã”.

“Devemos resistir a essa praga brasileira que veste um traje escuro e mascara seu sorriso astuto, ataque por repressão, agressão, perseguição, usando os ‘resquícios’ legais de um Brasil outrora autoritário, como esta lei de segurança nacional, herdada das trevas, do período da ditadura militar”, prossegue. “E eu que pensava que depois de vinte anos de tortura, tantos assassinatos e censuras, nunca mais sofreríamos com tudo isso…”, lamenta.

Antídoto contra Bolsonaro

Irmão mais novo de outro astro do futebol, o jogador Sócrates, Raí diz que apesar de tudo precisa acreditar. “Será que o Brasil um dia sairá desse “pesadelo”, questiona-se, antes de sinalizar que, embora ainda seja preciso resolver a crise sanitária, “a obra ainda não estará terminada”.

“Teremos então de destruir esta praga ainda maior, aquela que, além do microscópico agente infeccioso, gangrena nosso corpo social”, conclui. “Porque não basta identificar o sequenciamento do vírus que nos impõe suas leis e escarnece nossos direitos, devemos agora encontrar o antídoto para não nos desenvolvermos, apesar de nós mesmos, em portadores doentios de uma doença que nos destruiria”, finaliza.