No fim do domingo (25), o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Eduardo Lula, mandou um duro recado ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), após uma foto do chefe do Estado com os dizeres “CPF cancelado”, gíria usada por grupos de extermínio para referir-se a mortos, vir à tona.
Com o Brasil beirando as 400 mil óbitos pela Covid-19 e somando 14 milhões de infectados, Lula chamou de “cruel” e “constrangedora” a atitude do mandatário, disse que o deboche do presidente diante da tragédia nacional ultrapassou todos os limites e que é ‘urgente’ um pedido de desculpas aos brasileiros.
“Nos próximos dias o Brasil chegará à triste marca de 400 mil vidas perdidas pra Covid-19. No lugar de lamentar, nosso Presidente resolve fazer disso uma ‘piadinha’. ‘CPF cancelado’ é expressão que significa uma vida tirada”, escreveu Lula em perfil pessoal no Twitter, antes de emendar: “Ao seu lado, aparentemente atônito, vemos o Ministro da Saúde. A cena é constrangedora e cruel. O mínimo, o mínimo a se fazer, seria um pedido imediato de desculpas. Piedade é um sentimento natural e não pode ser forçada, mas deboche da dor do outro ultrapassa qualquer limite”, afirmou o presidente do Conass, órgão que consolida diariamente dados enviados Secretarias Estaduais de Saúde acerca da pandemia.
A polêmica imagem de Bolsonaro se tornou pública depois da visita da comitiva presidencial a Manaus, epicentro de uma nova onda da crise sanitária, na última sexta-feira (23). Além do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, aparecem na foto o apresentador de TV, Sikêra Júnior, e outros apoiadores.
No programa, o ex-capitão do Exército voltou a criticar prefeitos e governadores por medidas restritivas para deter a disseminação do vírus e fez novas ameaças à democracia.
“Eu tô junto com os meus 23 ministros, da Damares ao Braga Netto, praticamente conversados sobre isso aí se o caos generalizado se implantar no Brasil pela fome, pela maneira covarde como alguns querem impor certas medidas restritivas para o povo ficar dentro de casa”, disse.
Bolsonaro, epicentro de polêmicas
Polêmico, Bolsonaro também protagonizou outras gafes na passagem pela capital do Amazonas, ao desferir seu ódio em piadas homofóbicas e xenofóbicas.
“Esse queima ou não queima?”, disse sobre um assistente de produção do programa. “Sikêra, não sei não, hein?”, disse, apontando para um homem da produção. “Eu tenho certeza”, respondeu o apresentador. “Aquele rabinho ali.. olha o rabinho dele”, afirmou Bolsonaro referindo-se ao cabelo do profissional.
Poucos momentos depois, o presidente indagou Sikêra Jr. sobre um cameraman que estava vestido de samurai. “É o xing-ling”, questionou Bolsonaro, que foi convidado pelo apresentador para se apresentar ao mandatário.“Diz aí. Tudo pequenininho aí?”, disse o presidente aos risos.
Na mesma sexta-feira (23), dia em que esteve no programa, o governo federal publicou a nomeação do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na Secretaria-Geral do Exército. Junto com o presidente, Pazuello é um dos alvos da CPI da Covid, que será instalada no Senado na próxima terça-feira (27).