Enfrentar a pandemia é um desafio inédito e imenso. Há uma complexidade que reúne a manutenção da vida e a gestão das questões sociais mais diversas. Essa realidade impôs a todos nós muitas decisões difíceis diariamente, previstas e imprevistas. Vejam nossa luta pela educação pública maranhense em tempos de pandemia. Há quem pense que só se pode caminhar neste árido terreno atual com medidas duras, mas a escola nos inspira outro movimento: a participação, a luta consciente, a opção pela razão, pela democracia e a defesa da vida, elementos marcantes na Pedagogia da Esperança e da Libertação.
Anos atrás, discutíamos veementemente sobre colocar o estudante no centro da política educacional do Estado. O olhar comprometido com o jovem e seu futuro consolidaria o perene apoio a toda estrutura escolar, uma política de estado ajustada. Tal reflexão nos ajuda hoje nesse momento tão desafiador onde, para além dos estudos e organização, compreender humanamente e apoiar os professores e comunidades escolares é indiscutível, a fim de chegarmos aos estudantes e não os perder para a evasão e para a desesperança que a nefasta doença trouxe consigo. Fazemos, para quaisquer medidas, a dolorosa conta diária que envolve a vida e retrocesso no aprendizado da juventude maranhense.
Diante da incertezas do cenário epidemiológico (como ocorreu com o registro da variante P1) adotamos o percurso da prudência com a suspensão das aulas presenciais na rede estadual. Contudo, mudar o tradicional formato do ensino não poderia significar uma paralisação na aprendizagem e na visão do próprio direito social à educação, onde a escola e as famílias têm papel decisivo para a formação das crianças e adolescentes. É certo que nossa conclusão imediata foi que nada substitui as relações estabelecidas presencialmente no ambiente escolar: entre as pessoas de várias idades, de vários lugares, de várias realidades que cooperam entre si, a mágica afetuosa e a profícua dialética entre professor e estudante, entre o ensino e a aprendizagem, entre o presente e futuro. E foi na combinação da cautela com a disposição, que buscamos criatividade e inovação para ofertar práticas educativas durante a pandemia e manter o vínculo do estudante com a escola e com a crença no próprio futuro.
Observar a complexidade da educação no cenário da pandemia pelo novo coronavírus é considerar seu impacto real na vida dos estudantes. Os aspectos econômicos, as questões relativas à moradia, à segurança alimentar e nutricional, à saúde, entre outras, têm relação orgânica com o acesso à escola e ao ensino. E isso exige uma grande mobilização e sensibilidade do setor educacional. O que extrapola, portanto, a mediação das atividades pedagógicas. Foi desse modo que chegamos à perspectiva de vacinação dos profissionais da educação do Maranhão, que iniciou no último dia 20 de abril, alcançando o número de 50 mil imunizados em apenas 15 dias, permitindo-nos voltar a vislumbrar um retorno planejado e seguro às aulas.
Por fim, sublinhamos aqui a visão decisiva de parte da sociedade, ativada pelo marcante ânimo do movimento estudantil nacional, quando tomou para si a iniciativa de aliar vida, pão, vacina e educação, pois no cenário de retrocessos e negação de direitos no Brasil, temos 42,3% das famílias com filhos nas redes públicas de educação básica que vivem com ¼ de salário mínimo per capita, conforme estudo divulgado pela União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e UNICEF, além do devastador número de 19 milhões de cidadãos e cidadãs que enfrentaram a fome no último trimestre de 2020, segundo dados da pesquisa Olhe Para a Fome. O nível é o maior desde 2004.
Mas, é na força da ciência, que vira vacina e esperança no braço e na vida do profissional da educação, por meio do grandioso trabalho do Sistema Único de Saúde (SUS), que se soma a organização popular pelo pão, que nos faz lembrar a parábola da multiplicação e partilha dos pães e dos peixes, ocorrida pela solidariedade e disposição do povo.
Falar em educação hoje é, indubitavelmente, alimentar o sonho de futuro com dignidade para as pessoas e de uma recuperação do país. Na espera ativa, do ESPERANÇAR de Paulo Freire, buscamos os corpos saudáveis e nutridos que vão com passos firmes a caminho da escola. Se a desigualdade segue cruel e obscena, tanto mais solene e robusto deve ser nosso compromisso. Agora, por vida, pão, vacina e educação para todos!