O governador Carlos Brandão transformou o dinheiro dos maranhenses em presente de aniversário. Uma ação popular revela que ele gastou R$ 1.006.956,74 dos cofres públicos em uma viagem a Paris que misturou – com muita criatividade – agenda oficial e comemoração pessoal. Tudo começou como uma participação em evento técnico sobre sanidade animal e terminou como uma festa particular na capital francesa, com direito a comitiva, jantares e até um vexame público com carne bovina.
A papelada judicial conta uma história de mudanças convenientes. A viagem foi inicialmente autorizada para a 92ª Assembleia Mundial de Sanidade Animal, entre 25 e 29 de maio. Só que Brandão refez as datas: transferiu tudo para o período de 30 de maio a 7 de junho, abraçando seu aniversário, em 2 de junho. O detalhe mais revelador? O convite original era para técnicos da área agropecuária – não para governadores. Mas isso não impediu que ele embarcasse com a esposa e uma equipe de assessores, todos com diárias de R$ 5.465,28 por dia.
Enquanto servidores voavam em classe econômica por R$ 2 mil, Brandão escolheu o luxo: suas passagens custaram R$ 75 mil. A diferença de preço daria para comprar um carro popular. E não parou aí. Para ir de São Luís a Guarulhos, fretou um jato particular – com paradas em Brasília para buscar a primeira-dama – ao custo de R$ 385 mil. O governo alega que era “missão oficial”, mas as agendas em Paris e Estocolmo foram tão relevantes que nem o presidente Lula citou o nome de Brandão durante o evento principal.
O auge da ironia veio nas redes sociais. O governador postou um vídeo comemorando um churrasco em Paris, onde degustou picanha do Mato Grosso e sugeriu que em breve seria carne maranhense. Só que era mentira. Dias depois, em Imperatriz, ele admitiu: “Fiz uma gracinha lá… meio que falsa”. A confissão, longe de ser despretensiosa, veio após críticas de pecuaristas locais, nenhum dos quais foi incluído na tal “missão internacional”.
Agora, três deputados estaduais pedem na Justiça que Brandão devolva cada centavo. A ação popular, movida com base no direito constitucional de questionar gastos públicos, aponta passagens em duplicidade (R$ 42 mil a mais), diárias sem necessidade e um claro desvio de finalidade. Querem bloquear R$ 1 milhão em bens do governador, incluindo suas participações em fazendas através da Olea Holding.
Enquanto o juiz analisa o caso, os moradores do Maranhão – estado com IDH abaixo da média nacional – se perguntam quantos postos de saúde ou escolas caberiam nesse orçamento de aniversário. E Paris, que já foi cenário de revoluções, agora vira símbolo de um governante que acha que o erário público é seu cartão de crédito pessoal.
Leia a petição na íntegra abaixo