Por Márcio Jerry, Deputado Federal (PCdoB-MA)
Era o ano de 1981. Eu, aos 14 anos, estava numa aula de Matemática ministrada pela saudosa professora Meirinha, quando, do corredor, veio o burburinho de que o Papa João Paulo II acabara de ser assassinado em Roma.
Disse a fonte que tinha ouvido a notícia na Rádio Pioneira de Teresina, o que foi, em seguida, confirmado pela própria professora, que afirmou ter escutado a mesma informação de outra pessoa.
De posse da informação e excitado com a novidade trágica, corri aos estúdios do “Serviço de Alto-falante A Voz das Colinas”, instalado na escola em que eu estudava à época — o famoso Centro Integrado de Educação de Colinas (CINEC). O saudoso amigo sonoplasta Emivaldo Pereira Porto atendeu ao meu pedido e, imediatamente, fez ecoar o prefixo da “emissora”, seguido de uma música fúnebre, ao que emendei com voz impostada:
“Atenção, Colinas, atenção Colinas. Sua Santidade, o Papa João Paulo II, acabou de ser assassinado a tiros em Roma.”
Um clamor na cidade. Gente lamentando, chorando, acorrendo à igreja imediatamente. Foi quando entrou no ar o serviço de som da Igreja Católica, indignado, com a locução do Sebastião Sacristão:
“Povo de Colinas, povo de Colinas, o Papa não morreu, o Papa não morreu! Isso é invenção dos crentes!”
Foi aí que, alertados, corrigimos a informação na “Voz das Colinas”, pedindo desculpas e informando que o Papa havia sido baleado, mas, graças a Deus, não morrera.
Ficou, contudo, estabelecida aquela confusão que me fez dar explicações a muita gente naquele dia e nos seguintes. Nos tempos atuais, teria sido uma grave fake news, muito mais que uma simples “barriga” jornalística. Eu e o saudoso amigo Emivaldo por anos rimos muito lembrando o episódio que, por minutos, “matou” o Papa e ainda acirrou debates entre católicos e crentes (evangélicos).
Em tempo. Naquele já distante 1981, em Colinas, os serviços de alto-falantes gozavam de audiência cativa em suas transmissões de avisos e músicas. A “guerra” rápida de versões no caso do atentado sofrido pelo Papa — como não poderia deixar de ser — dominou as conversas do dia na cidade. E ficou para mim marcado como ensinamento fundamental à boa prática jornalística: checar cuidadosamente as fontes.
Artigo publicado originalmente em O Imparcial.