Steven Levitsky
O cientista político aponta que Lula precisa construir uma grande coalizão para derrotar Bolsonaro a fim de que militares não se assanhe numa aventura antidemocrática. Foto: The Harvard Gazette

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo nesta terça-feira (15), o autor do premiado livro Como as Democracias Morrem, o cientista político Steven Levitsky, 54 anos, afirma que presidente autoritários no comando de países como Brasil e Estados Unidos é uma situação grave e que removê-lo do poder é uma tarefa urgente das forças democráticas brasileiras.

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Para o autor, no caso do Brasil isso deve ser feito por meio de uma coalizão ampla, com partios da esquerda à direita para eliminar o risco de Jair Bolsonaro (PL) contestar o resultado do processo eleitoral com respaldo das Forças Armadas.

Steven Levitsky é cientista político, mestre pela Universidade Stanford e doutor pela Universidade da Califórnia, Berkeley, é professor de governo na Universidade Harvard, onde também atua no Centro Weatherhead para Relações Internacionais e no Centro David Rockefeller para Estudos Latino Americanos. É autor, entre outras obras, de “Como as Democracias Morrem” (Zahar, 2018), escrito com Daniel Ziblatt.

O que se pode dizer do Brasil, onde pessoas que se manifestam contra a democracia recebem apoio do presidente?

Steven Levitsky: Existem diversos paralelos entre o Brasil e os EUA. Bolsonaro parece que, de forma consciente, imitou Trump ao longo dos anos. Nós elegemos uma figura autoritária em 2016, vocês fizeram o mesmo dois anos depois. Vivemos uma confusão, mas sobrevivemos e conseguimos removê-lo do poder, e tem uma boa chance de que os brasileiros façam o mesmo em 2022.

Mas também existe muita diferençasa. A principal é que Bolsonaro não tem um grande partido político por trás dele. Ele conseguiu comprar o apoio do Centrão e de legendas pequenas de direita, mas não tem um partido bolsonarista verdadeiro e forte. Trump tinha um dos dois maiores partidos dos EUA, o que o tornou muito mais perigoso.

Por outro lado, o controle do presidente do Brasil sobre os militares é maior do que nos EUA.. Então existe a possibilidade de Bolsonaro mobilizar aliados militares de uma forma que Trump não conseguiu. Por enquanto, não parece que isso vá acontecer.

E quanto a um cenário em que Bolsonaro perca, não aceite o resultado e tenha o Exército a seu lado nessa contestação?

Steven Levitsky: Essa é a grande interrogação. Nos EUA, Trump não pôde contar com os militares, ao passo que, no Brasil, Bolsonaro talvez possa. A resposta a essa interrogação vai determinar o destino da democracia brasileira. Eu acho que há razões para acreditar que os militares vão se comportar como nos EUA.

Líderes militares no Brasil têm mostrado preocupação com a politização das tropas, houve renúncias no ano passado e eles não participaram da mobilização contra o Supremo Tribunal Federal. E, mais importante, militares em geral não intervêm na política se não tiverem um apoio social generalizado. Se Bolsonaro perder de maneira expressiva, ele vai estar muito isolado para atrair os militares.

Por isso sempre digo que Lula precisa construir uma coalizão muito grande. A melhor maneira de garantir que os militares não fiquem tentados a embarcar numa aventura é por meio de uma derrota acachapante de Bolsonaro.

Confira a entrevista completa aqui.