Por Lucas Mendes, economista (UFMA) e pesquisador eleitoral associado à Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (ABRAPEL).

A crise política do grupo governista, mais precisamente entre os denominados “brandonistas” e “dinistas”, representa a instabilidade no cenário político local para as eleições estaduais de 2026. Em meio a esse ambiente de articulações intensas e incertezas, a divulgação e análise de pesquisas eleitorais antecipadas neste momento – no ano anterior ao pleito – bloqueia um olhar crítico e responsável . O contexto político local, marcado por disputas familiares, alianças instáveis ​​e nomes ainda pouco conhecidos do grande público, potencializa os riscos de interpretações equivocadas e de manipulação do debate público.

Com a indicação, cada dia mais clara , de que o governador Carlos Brandão – que tenta emplacar o sobrinho, Orleans Brandão , como seu sucessor – e Felipe Camarão – vice-governador e um dos remanescentes do “dinismo” que declarou ser pré-candidato em qualquer circunstância – caminharão em lados opostos , o grupo governista se fragmenta, abrindo espaço para candidaturas competitivas como a do Lahesio Bonfim – segundo colocado nas últimas eleições estaduais contra o atual governador – e Eduardo Braide – prefeito da capital reeleito com mais 70% dos votos válidos no ano passado e que, embora nunca tenha se declarado pré-candidato ao governo, desponta como favorito em todas as pesquisas divulgadas até o momento. Essa divisão cria um ambiente de instabilidade , onde alianças podem mudar rapidamente e o eleitorado ainda está em processo de formação de opinião. Nesse estágio, as pesquisas refletem mais o momento das articulações e a exposição midiática dos nomes do que uma real intenção de voto consolidado.

É fundamental destacar que, nesta fase de pré-campanha, pesquisas eleitorais podem ser facilmente manipuladas para atender a interesses de grupos específicos. Seja na escolha da amostra, na formulação das perguntas ou na divulgação selecionada dos resultados, há espaço para distorções que podem induzir o eleitor ao erro. Números “inflados” tendem a criar a falsa impressão de favoritismo ou inviabilidade de candidaturas, influenciando o chamado “ voto útil ” e desestimulando opções privilegiadas.

Neste momento de articulação política, as pesquisas eleitorais não devem ser vistas como planejadas de resultado, mas sim como instrumentos para orientar estratégias internas de partidos e candidatos . Eles ajudam a mapear o grau de conhecimento dos nomes, identificando regiões onde é preciso investir mais em campanha e avaliar o impacto de possíveis alianças. Para o público em geral, porém, esses dados têm pouca utilidade concreta e podem gerar expectativas irreais.

Nesta fase, o ideal é que o uso responsável das pesquisas fique restrito ao consumo interno das equipes de campanha. A divulgação ampla pode prejudicar o processo democrático, ao induzir o eleitor a tomar decisões com base em cenários artificiais, ainda distantes da realidade que se consolidará apenas com o avanço da campanha, a definição das candidaturas e o início do debate público eficaz.

Portanto, analisar pesquisas eleitorais divulgadas no ano anterior à eleição é um exercício de cautela , principalmente no Maranhão. A volatilidade do cenário, o desconhecimento sobre os pré-candidatos por parte dos candidatos, a força das máquinas políticas e familiares, além das crises internas, tornam os números pouco confiáveis ​​como indicadores de tendências reais. Mais do que nunca, é preciso olhar além dos percentuais e compreender o contexto político, as alianças e as estratégias eleitorais que, de fato, decidirão o boato da sucessão estadual em 2026. A verdadeira “também ” da disputa só surgirá com o amadurecimento do debate e a consolidação das candidaturas.