O silêncio há mais de 40 horas do presidente Jair Bolsonaro (PL) em não reconhecer a derrota, e por conseguinte a vitória do ex-presidente Lula (PT) na disputa do segundo turno presidencial, tem contribuído para manter a baderna em rodovias. Apoiadores do chefe do Executivo bloqueiam estradas federais em todo o país em protesto pelo resultado das eleições.
Ao longo da segunda-feira (31), pelo menos 23 estados e o Distrito Federal registraram mais de 300 estradas fechadas. Os bloqueios se iniciaram horas após o anúncio da vitória de Lula, que foi oficializada às 19h57 deste domingo (30).
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A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que havia, até as 9h desta terça-feira (1º), 227 bloqueios e interdições em rodovias federais. A PRF também informou que a corregedoria da corporação investigará eventuais agentes que tenham feito corpo mole na desobstrução de vias.
Desde o fim de semana a PRF está envolvida em diversas atuações controversas. Eleitores do Nordeste usaram as redes sociais no domingo para denunciar operações da PRF que estariam atrasando a votação de cidadãos.
Chamado ao TSE, o diretor-geral da corporação, Silvinei Vasques, justificou ao ministro Alexandre de Moraes que as revistas não teriam impedido eleitores de votar. Porém, não soube explicar porque essas operação tiveram foco especial no Nordeste, reduto eleitoral de Lula.
Moraes mande desbloquear estradas
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou na noite dessa segunda-feira (31) para a PRF desbloquear imediatamente as rodovias paralisadas por caminhoneiros.
Ele fixou multa de R$ 100 mil por hora de descumprimento, a contar a partir de meia noite de 3ª feira (1º.nov), a ser aplicada diretamente ao diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques. A decisão também afirma que Vasques pode ser preso em flagrante e afastado por desobediência se a ordem não for seguida.
Nesta terça, os governadores de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro reforçaram a determinação para os desbloqueios das rodovias e determinaram às polícias militares suporte aos agentes da PRF. Carlos Brandão, governador do Maranhão, informou que rodovias maranhenses também foram desobstruídas.
“Conforme determinação do STF, a nossa polícia, após negociação, já desobstruiu vias também em Açailândia, Imperatriz, Bom Jesus das Selvas e Estreito, garantindo livre acesso aos maranhenses. Seguimos acompanhando manifestações antidemocráticas no Maranhão”, afirmou Brandão.
A FenaPRF (Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais) e os sindicatos da PRF divulgaram nesta terça uma nota criticando o silêncio de Bolsonaro.
“A postura do atual presidente da República, Jair Bolsonaro, em manter o silêncio e não reconhecer o resultado das urnas acaba dificultando a pacificação do país, estimulando uma parte de seus seguidores a adotarem ações de bloqueios nas estradas brasileiras”, diz a nota.
Assessores de Bolsonaro ventilaram que ele reconheceria a derrota na manhã desta terça. Não fez. Agora falam que será à tarde. Quanto mais silêncio, mais rodovias bloqueadas com impacto econômico relevante para o país. Sem falar que os bloqueios atrapalham a chegada de insumos, mercadorias, remédios e impedem o direito de ir e vir dos brasileiros.
A cada hora que passa, Bolsonaro se apequena mais ainda. Poderia, como um presidente que recebeu 58 milhões de votos, pedir a pacificação do país e buscar uma transição pacífica. O silêncio de Bolsonaro em não reconhecer a derrota acabar por contribuir para a baderna nas rodovias. Que seja a última.