Líder do partido PSB na Câmara dos Deputados, o deputado federal maranhense Bira do Pindaré defende, em entrevista ao Diário 98, que o próximo presidente da República acabe com as emendas secretas do orçamento. A fala de Bira vai ao encontro da manifestação do ex-presidente Lula (PT), que, em convenção do PSB na última sexta (29), em Brasília, defendeu que esse recurso não fique mais sob o controle absoluto do presidente da Câmara e do relator do orçamento no Legislativo.
As emendas secretas, conhecidas pela rubrica de RP 9, estão no foco de suspeitas de corrupção em diversos municípios maranhenses. Nas últimas semanas matérias na imprensa nacional têm repercutido como as prefeituras do interior do Estado fraudam números de atendimentos de saúde a fim de ganhar mais recursos do SUS (Sistema Único de Saúde).
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“O orçamento secreto é uma aberração. É um escândalo sem precedentes em termos de engrenagem de corrupção. E o Maranhão está no epicentro”, contou Bira ao D98 na convenção do PSB em Brasília que sacramentou a aliança PT-PSB com as indicações de Lula e Alckmin na chapa progressista.
Sobre a disputa para o Governo do Maranhão, Bira acredita que Carlos Brandão tem potencial de levar a disputa no primeiro turno. E que o governador tem condições de dar continuidade às políticas públicas iniciadas pela gestão do ex-governador Flávio Dino (PSB).
Pesquisa Econométrica de 26 de julho aponta o atual governador com 11 pontos à frente do segundo colocado.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
Diário 98 – O que o senhor achou dessa carta do empresariado, do PIB, em defesa da democracia? Que sinalização é essa que esses setores estão dando?
Bira do Pindaré – Foi extraordinário. Eu acho que ela substitui a Carta ao Povo Brasileiro, que o Lula assinou em 2002. Naquela ocasião, foi o Lula que falou na Carta ao Povo Brasileiro. Agora foi o inverso. Foi o setor empresarial falando para nós todos, defendendo aquilo que pra nós é a coisa mais importante neste momento, que é a democracia.
Eu acho que foi muito positivo. Reforça demais o funcionamento desse arranjo político que nós construímos aqui, com PT, PSB e os demais partidos aliados, e demonstra a força e a energia pulsante que essa coligação tem.
Eu acho que, embora ali não seja um manifesto partidário, e nem favor de candidatura A, B ou C, mas o conteúdo, o valor daquele conteúdo, tem a ver com aquilo que nós defendemos. Então eu acho que é muito positivo.
O PSB do Maranhão vai oficializar a candidatura de Carlos Brandão ao governo e Dino para o Senado. Como o senhor está vendo as expectativas dessas duas disputas?
Com muito otimismo. Primeiro porque o Flávio fez um governo extraordinário e que é um marco na história do Maranhão. E o Brandão representa esse sentimento de que isso não pode ser interrompido e deve prosseguir. Então, eu acho que a força da candidatura Brandão está exatamente nisso, no legado do governo Flávio.
E ao lado disso nós temos o Lula, que também está junto nessa conformação de forças e vai ao Maranhão muito em breve para dizer isso pessoalmente.
Então, com o Lula, com o Flávio Dino e com a força de um governo que vem dando certo, apesar de todas as dificuldades, da conjuntura presente, eu vejo com muito otimismo e acho que nós vamos conseguir vencer essa batalha. E olha, não duvide se for no primeiro turno.
Na convenção do PSB o presidente Lula demonstrou preocupação com as emendas RP 9, ou emendas secretas do relator, sob o controle do presidente da Câmara e do relator do orçamento. Alguns municípios do Maranhão recentemente foram alvo de ações da Polícia Federal, tendo esses recursos irrigado prefeituras, algumas delas aliadas do senador Weverton Rocha, Josimar do Maranhãozinho, entre outros. Como combater essas emendas pensando já num futuro governo?
O orçamento secreto é uma aberração. É um escândalo sem precedentes em termos de engrenagem de corrupção. E o Maranhão está no epicentro. As matérias, as informações que circulam demonstram isso. Então eu acho que é uma prática que deve ser abominada, não pode permanecer.
E eu fiquei muito feliz porque o Lula, na convenção, deixou isso muito claro. A sua posição contrária ao orçamento secreto. Eu acho que nós temos que criar outras ferramentas.
Hoje você tem emendas individuais, tem emendas de bancadas estaduais. Você pode ter emendas, por exemplo, de bancadas partidárias que não existem. Mas tudo deve ser transparente, tudo deve ter critério, tudo deve ter uma sintonia com as políticas públicas que são necessárias para o Brasil.
Então, não dá pra ser assim. Não dá pra ser simplesmente uma moeda de troca para comprar votos, comprar votos no Congresso Nacional e comprar votos também na eleição. Porque esse dinheiro não está virando hospital, não está virando escola, não está virando estrada. Está sendo utilizado na compra e venda de emendas para financiar a compra de votos na eleição. Então é uma aberração que está causando um desequilíbrio no processo democrático. Então é preciso que realmente a gente abomine o orçamento secreto.
É possível um parlamentar acender uma vela para Bolsonaro em Brasília e outra para Lula no Maranhão?
Não. Eu acho que não dá uma vela para Deus e o diabo é impossível. Então, a pessoa tem que ter lado.
O Brasil está vivendo um momento histórico que não dá para ficar em cima do muro. Não dá para ficar com um pé aqui, outro acolá. Você tem que ter lado, e o nosso lado é o lado da democracia, do respeito à dignidade do povo brasileiro. Nosso lado é o lado do Lula. Então, quem está aqui está 100%, está inteiro, não pode estar pela metade.
Então nós vamos denunciar esse tipo de postura, que eu acho que é um vexame, um vexame político. Quem adota essa postura num momento tão polarizado como é esse nosso país.