Se o presidente Jair Bolsonaro (PL) pensa que conseguirá aprovar com o mínimo de facilidade a privatização da Petrobras é melhor ir refazendo os cálculos. A medida, anunciada ao jeito olavista pelo novo ministro de Minas Energia, Adolfo Sachsida, foi recebida com descrença pelo mundo político de Brasília, setores do PIB e presidenciáveis que almejam alcançar a cadeira presidencial. Para os dirigentes de sindicados dos petroleiros, a medida não passa de mais uma cortina de fumaça para desviar do tema da gasolina dolarizada e de uma inflação de 12% corroendo cada vez mais o poder de compra dos brasileiros.
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Segundo o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP-CUT), Deyvid Bacelar, publicou em seu Twitter, o presidente em final de mandato Jair Bolsonaro (PL) verá “a maior greve da história da categoria”, caso avance na intenção de privatizar a Petrobras.
Bacelar é um dos que corrobora a tese de que a medida não avança um milímetro no Congresso e que tem sido usada para performance política. “Ao invés de buscar um ‘bode expiatório’ para enganar a população, fingindo preocupação, Bolsonaro deveria assumir o papel de mandatário e acabar com essa política de preços covarde, que vem levando o povo cada vez mais à miséria”, afirmou pelo Twitter.
Em contraponto a Bolsonaro, o ex-presidente Lula (PT) promete resgatar a função social da Petrobras. Ele disse em seu Twitter: “Bolsonaro não sabe o que faz com o país. Não sabe trabalhar, investir ou fazer política econômica. Vendeu a BR e hoje 392 empresas importam gasolina dos EUA. Vamos deixar claro: somos contra a venda da Petrobrás e Eletrobrás. Parem de privatizar nossas empresas públicas“.
Bolsonaro no fundo não quer privatizar a Petrobras, assim como seu ministro da Economia, Paulo Guedes. Se quisessem de fato teriam feito em começo de mandato, condição em que presidentes com um mínimo de estratégia usam para aprovar matérias mais espinhosas.
O que Bolsonaro quer na verdade é performar. Politicamente ele quer aparecer como alguém que tá lutando para diminuir o preço da gasolina. Internamente ele não quer isso, tendo em vista que a União também ganha muito dinheiro em impostos com esses lucros.
E é dinheiro que Bolsonaro tá usando para pagar as emendas secretas, tudo. Ele fala mas não faz. Ele não quer de fato operar isso e nem tem condições políticas para fazê-lo em fim de mandato. Primeiro porque o Paulo Guedes não deixa, o Centrão não quer, o Conselho da Petrobras não aprova.
Mas, claro, estamos em ano de eleição e Ele precisa performar. “Ah eu vou trocar o presidente da Petrobras, vou colocar outra pessoa, tá vendo eu estou tentando gente, mas a Petrobras é terrível e não me deixa trabalhar. A culpa não é minha, ela foi roubada pelos petistas, preciso salvar a Petrobras vendendo ela de vez”. Assim pensa um Bolsonaro com a cabeça de vereador do Rio de Janeiro que aprendeu a prática de usar funcionários fantasmas para desvio de dinheiro público. Uma eterna vereança alçada à figura de Presidente da República.
Vocês já não cansaram disso também não?
Ademais, o que está acontecendo hoje na Petrobras é escandaloso e até certo ponto um crime contra a soberania nacional brasileira.
Segundo esta matéria de abril do Valor Econômico, a remuneração dos administradores da Petrobras mais que dobrou entre 2020 e 2021, segundo dados do formulário 20-F, documento enviado ao regulador do mercado de capitais americano. De acordo com o formulário, a remuneração no ano da diretoria executiva, conselho de administração e conselho fiscal da empresa somou US$ 6,1 milhões (R$ 34 milhões na cotação de 30 de dezembro), ante US$ 2,8 milhões em 2020.
Outro ponto: matéria da Folha de S. Paulo de outubro do ano passado – com o petróleo e combustíveis em alta, a Petrobras registrou lucro de R$ 31,1 bilhões no terceiro trimestre de 2021 e decidiu dobrar o valor dos dividendos distribuídos aos seus acionistas, que chegarão a R$ 63,4 bilhões no ano. Agora em 2022 esse lucro recorde promete ser ainda maior.
Em pratos limpos essas duas matérias apontam que, hoje, há um pequeno número de pessoas na Petrobras garantindo lucros bilionários em cima do suor de todos os brasileiros.
E qual a disposição de Bolsonaro para mudar isso? Nenhuma, zero.
Ao final, é só um jogo de mentiras e performance política para esconder a cristalina falta de gestão deste governo, o descontrole da inflação, a volta do país ao mapa da fome e uma previsão de crescimento econômico digno de uma gestão sem projeto e sem rumo. Simples assim.