Gasolina cara Brasília
Posto de gasolina em Brasília vende litro do produto a 7,69. Foto: Reprodução

Os últimos três anos de governo Bolsonaro têm sido desafiadores principalmente para a população brasileira mais pobre. É impossível não notar: comida, gasolina, energia, tudo está mais caro no Brasil. A inflação atingiu neste início de abril de 2022 o valor mais alto desde 1995, um retrocesso de 27 anos.

O IPCA, considerado uma prévia da inflação oficial do país – ficou em 1,73% em abril, após ter registrado taxa de 0,95% em março, segundo dados divulgados nesta quarta (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Para entender a dimensão do problema é a maior taxa para o mês desde 1995, quando ficou em 1,95%.

Em 12 meses, o IPCA-15 acumula alta de 12,03%, acima dos 10,79% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. No ano, os preços subiram em média 4,31%. Em alguns estados, porém, esse valor é muito acima disso. Segundo o IBGE, em Curitiba a inflação é de 15,16%; no Recife, 12,43%; Goiânia 13,09%; Salvador 12,36%.

Um conjunto de fatores interligados conspiram para jogar os preços para cima. Vamos começar analisando os preços dos combustíveis. O preço médio da gasolina comum no país chegou a R$ 7,270 na semana entre os dias 17 e 23 de abril deste ano, no que é considerado o maior patamar desde 2004. Os dados são da ANP (Agência Nacional do Petróleo).

Em alguns estados a gasolina já passa de oito reais. Vale lembrar: o preço dos combustíveis, desde o governo Michel Temer (MDB), optou-se por seguir o comportamento dos preços do mercado exterior, e por isso dois fatores explicam boa parte dessa alta.

Primeiro, o preço do barril do Petróleo vêm numa sequência de alta, agravada pela guerra na Ucrânia após ser invadida pelo poderio militar da Rússia. Segundo, por conta de uma maior demanda de muitos países que começaram a reabrir suas atividades econômicas após a vacina contra a Covid-19 amenizar a crise de saúde e sanitária.

Há um terceiro fator a se observar que diz respeito à própria dinâmica da Opep, Organização dos Países Produtos de Petróleo. Ela concentra cerca de 40% da produção global da commoditys e às vezes segura os estoques para valorizar o preço do barril. Nas últimas semanas, os preços do petróleo têm tido oscilações, rondando a marca de US$ 100 o barril, ora recuando levemente, ora voltando a dar sinais de alta.

Dolar e real
Foto: Reprodução/Envato Elements

Esses são os ingredientes para compreender o cenário de impacto na inflação brasileira: 1) preço do petróleo e 2) o dólar, tendo em vista que o barril é cotado na moeda americana – e o real segue perdendo valor de mercado.

A cotação na manhã desta quinta (28/4) bate R$ 5,02, interrompendo uma sequência de baixas que havia se mostrado há algumas semanas. Portanto, mantida a regra de dolarização dos combustíveis brasileiros, atrelada a qualquer espirro em países estrangeiros, a tendência é de manutenção dos preços elevadíssimos, sem que o governo de Jair Bolsonaro (PL) demonstre qualquer interesse em resolver o problema.

Pois bem, o aumento dos combusítiveis impacta diretamente no bolso de quem precisa encher o tanque. Não diferente para os motoristas de aplicativos, que, como a gente sabe, já rodam com uma margem de lucro bem apertada e tem se agravado com o descontrole de preços na gasolina. Alguns motoristas já pensam em desistir dos aplicativos como ferramenta de trabalhado, tendo em vista que eles já não compensam mais financeiramente.

Mas não só quem precisa encher o tanque é afetado.

Há um efeito cascata do aumento da gasolina e do diesel pressionando o preço do transporte público, o custo do frete, e isso acaba refletindo invariavelmente no preço de diversos produtos. Inclusive nos alimentos, que, como você já deve ter testemunhado nas feiras e mercados, vem subindo há algum tempo de forma escandalosa. No país autointitulado ‘celeiro do mundo’? Inaceitável.

Aqui retomo à questão do dólar porque ele também influencia. E tem um duplo efeito. Como as commodities agrícolas milho, açúcar, carne, café, trigo, laranja – são cotados em dólar, sempre que ele sobe, o preço delas em real tende a subir. Além disso, com o dólar alto há um incentivo ao produtor a exportar em vez de vender pro mercado interno. Isso reduz a oferta doméstica e, advinha? Empurra os preços para cima.

A isso se soma um outro fator que tem diminuído a disponibilidade interna de alimentos. As chuvas irregulares, agravadas pelas mudanças climáticas, em algumas regiões do Sudeste e Centro-Oeste, provocaram a quebra de safra em importantes regiões produtoras afetou a cultura do milho, laranja, soja, café, açúcar, entre outros.

Inflação feira
Foto: Reprodução

O milho e a soja possuem um efeito em cadeia. Eles são matérias-primas usadas na indústria da aves, suínos e bovinos, ou seja, também acabam pressionando os preços das carnes. O açúcar é matéria-prima do etanol – e o etanol também é usado na composição da gasolina. Perceba como tudo está interligado e reforça a necessidade de repensar a melhorar da economia verde brasileira e novas formas de produção e distribuição de riquezas e alimentos.

A seca também ajuda a explicar não só o impacto nos alimentos, mas também no preço da energia elétrica. A época de falta de chuvas que se aproxima às regiões produtoras do Centro-Oeste e Sudeste, e com a consequente redução dos reservatórios, forçam o governo a acionar usinas termelétricas movidas a gás natural, óleo diesel, biomassa e carvão, para compensar a redução da oferta de energia pelas hidreléticas.

Vale lembrar que o carvão é extremamente poluidor do meio ambiente. Além de mais poluente, a energia termelétrica é mais cara – daí a razão porque na conta de energia o governo adiciona uma taxa extra, a bandeira vermelha acionada para que o consumidor pague mais caro por ela.

Por último e não menos importante, as crises sucessivas criadas pelo presidente Jair Bolsonaro, em ataques à institucionalidade do país, ameaças às eleições e de rupturas democráticas, promoção ao ódio, falta de consenso, desconfiança sobre o Brasil, ruptura do pacto social, fuga de investimentos estrangeiros e ataques a ministros do STF, ao TSE, formam o arcabouço que em Brasília costuma-se falar em “tempestade perfeita” para a continuidade da crise.

Em resumo, aumento da inflação, do juros, do dólar, do preço da comida, do gás de cozinha, da gasolina. O Brasil voltou ao país da fome num retrocesso de suas bases democráticas num momento dramático para os brasileiros. Num governo que prefere promover eventinho no Palácio do Planalto não ignorar os problemas reais e enaltecer deputado condenado, a crise por qual o país passa neste 2022 tem nome e sobrenome: tá caro? A culpa é de Jair Bolsonaro.