Ex-secretário de Educação do governo Flávio Dino (PSB), Felipe Camarão (PT) critica, em entrevista ao Diário 98, a retirada por parte do senador Weverton Rocha (PDT) do apoio à CPI do MEC, que tem sido articulada no Senado Federal para investigar suspeitas de corrupção e pedidos de propina no Ministério da Educação, outrora comandado pelo pastor Milton Ribeiro.
Indicado como vice para concorrer em outubro na chapa de Carlos Brandão (PSB), o ex-secretário de Educação dinista é enfático ao afirmar não ser possível um candidato acender uma vela para Lula no Maranhão e outra para Bolsonaro em Brasília: “É incompatível”, diz ele.
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Camarão afirma ainda acreditar numa vitória do ex-presidente Lula (PT) no primeiro turno. E caso não ocorra, diz confiar que as forças democráticas estarão ao lado do petista para derrotar o extremismo de Jair Bolsonaro no segundo turno.
Diário 98 – O MEC está vivendo sucessivos escândalos de corrupção. O senador Weverton retirou apoio, a pedido de Bolsonaro, para enterrar a CPI do MEC. Como você vê essa posição do senador?
Felipe Camarão – Primeiro entendo que é urgente investigar esses escândalos com fortes indícios e provas robustas de corrupção no MEC. Isso tem que ser investigado pelo Ministério Público, pela Polícia Federal e, claro, pelo Congresso Nacional, que tem essa competência constitucional de investigar e fiscalizar o Poder Executivo.
Eu disse nas minhas redes a urgência da CPI do MEC. Sou amplamente favorável à implantação da CPI e sou absolutamente contra a retirada de qualquer assinatura nesse sentido.
Eu acho que quando a gente tem uma posição bem definida, e isso não estou falando só de política ideológica partidária, mas a favor das coisas funcionarem bem, principalmente na educação, investigar o MEC é urgente. Retirar assinatura de CPI está errado.
Quem apoia Bolsonaro em Brasília pode também estar com Lula?
É incompatível e não tem como. Ou se está com Lula no Maranhão, em Brasília ou se está com o Bolsonaro. Não tem como servir a dois propósitos, a essas duas lideranças antagônicas. E nós, do campo político que pertencemos aqui no Maranhão, o meu partido, o PT, do PCdoB, do PSB, dessa frente que apoia hoje o governador Carlos Brandão, não tem como a gente ficar em dois lugares. Aqui nós formamos uma frente anti-Bolsonaro e não tem como apoiar esses dois líderes ao mesmo tempo.
Bolsonaro tem diminuído a vantagem frente ao presidente Lula. É possível ainda Lula conseguir essa vitória no primeiro turno?
Isso já era esperado. Todo mundo que é da política e que faz uma leitura mais aprofundada, mais tranquila da política, já sabia que haveria um crescimento do Bolsonaro nessa fase pré-eleitoral que estamos passando. Acredito que ele ainda cresce um pouquinho mais. Por quê? É simples. É por conta da polarização.
Mesmo com uma possível terceira via, eu não acredito que essa terceira via cresça a ponto de chegar nem a dois dígitos. No máximo, vai ficar em torno de nove ou oito, talvez 10%, no máximo.
Mas, de fato, o que vai haver é uma grande polarização entre Lula e Bolsonaro, fazendo com que os dois disputem essa faixa de votos. O nosso sentimento ainda é de esperança de vitória no primeiro turno, mas sabendo que é difícil.
Na verdade eu tenho certeza que num eventual segundo turno todas essas forças anti-Bolsonaro, que rechaçam o ponto de vista antidemocrático, rechaçam o obscurantismo, o terraplanismo, a corrupção desenfreada desse governo Bolsonaro, se unirão. Acredito muito que venceremos a eleição, em primeiro ou em segundo turno.
O seu trabalho na Secretaria de Educação virou uma referência nacional e o transformou em uma figura pública no Maranhão. Agora que você deixou o governo, quais são os seus planos?
Eu voltei para o meu órgão de origem, a Advocacia Geral da União. Sou Procurador Federal de carreira, já estou de novo atuando nos meus processos judiciais junto à Procuradoria Federal. Continuo lecionando, continuo dando aula. Sou professor da Universidade Federal do Maranhão, no curso de Direito com a disciplina de Processo Penal e Responsabilidade Civil. E claro, conciliando isso com a política.
Eu, como pré-candidato a vice-governador, honrosamente indicado pelo PT e por essas forças políticas, recebi o apoio do PCdoB e do PSB também para minha indicação. Estou muito feliz por isso. Quero continuar fazendo a minha militância política. Junto com o governador Brandão, junto com o futuro senador Flávio Dino, sob a liderança dessas duas grandes figuras da política maranhense. E vou continuar meu trabalho de dialogar com a população.
Essa vai ser minha principal função até o pleito eleitoral do dia 2 de outubro: conversar com professores, com movimentos sociais, como o MST, com os povos indígenas, os quilombolas, as mulheres, com as pessoas com deficiência, com a sociedade. Esse vai ser meu principal papel como representante do PT, conversar com a sociedade, ajudar na formulação do plano de governo do Brandão para este governo, que eu tenho convicção de que serei seu vice governador eleito.
Vou continuar, claro, colaborando, como sempre colaborei com o Estado do Maranhão, dando meus palpites, as minhas opiniões, mas sobretudo fazer uma construção política com a população e com as forças progressistas, democráticas, anti-bolonaristas em nosso Estado.
Você é visto atualmente como um representante do dinismo, de uma nova geração de quadros que ganhou essa notoriedade pelas mãos do ex-governador Flávio Dino. Como você vê esse processo de renovação da política maranhense?
Vejo com muita alegria, muito entusiasmo. O ex-governador Flávio Dino, de fato, revelou grandes quadros, novos quadros para a gestão e para a política. Isso foi uma marca do seu governo.
Pessoas que antes nunca teriam chance de ocupar cargos importantes, como foi o meu caso, de que fui secretário de sete órgãos no governo, de quatro secretarias diferentes, da secretaria mais importante, coração do governo, que é a Educação. Se não fosse o Flávio eu nunca teria tido essa oportunidade. E posso citar outros quadros, como Carlos Lula na Saúde. Rodrigo Lago na Secretaria de Agricultura Familiar. O Diego Galdino, Anderson Lindoso. Daniel Carvalho, entre tantos outros quadros. A Tatiana da Juventude é maravilhosa e isso foi uma mescla com experiência, com pessoas que já vinham da política, mas que também nunca tinham tido oportunidade, a exemplo do nosso companheiro Márcio Jerry, do Gerson Pinheiro, da Secretaria de Igualdade Racial, do Chico Gonçalves, meu companheiro de partido, entre tantos outros.
Nós fizemos uma mescla de experiência e juventude que deu muito certo. Eu vejo com muito bons olhos a experiência que o Brandão está seguindo do Flávio, já que ele colocou no seu secretariado o Pedro Chagas, o Raúl Mochel, a Amanda na Sedihpop, o Tiago Fernandes na Saúde, ou seja, mais uma leva de nova geração de pessoas dando oportunidade. Então acho que o Flávio inaugurou um momento muito importante para a gestão pública e para a política maranhense.
E esses quadros agora, que têm essa experiência de gestão, resultados efetivos para a população, estão se colocando à disposição da população maranhense para contribuir em outras áreas. Portanto, eu acho que a gente está fazendo uma mudança também geracional na política maranhense e com campo de esquerda apresentando ótimos quadros, com resultados efetivos, com eficiência.
Então, acho que o Flávio também teve essa característica, além de melhorar a vida da população maranhense, de ter uma alta aprovação de seu governo, de implementar políticas públicas que antes nunca nenhum governante teve coragem de fazer.
Ele possibilitou que jovens pudessem comandar programas com o Escola Digna, como os Restaurantes Populares, o incremento da rede de saúde pública, incremento da agricultura familiar. E isso credenciou muita gente nova para a política maranhense, que em breve será um dos quadros nacionais também.