Em entrevista ao Diario 98, o presidente estadual do partido Cidadania no Maranhão, Eliel Gama, conta sob quais critérios a agremiação decidiu pelo apoio ao vice-governador Carlos Brandão (PSDB) na disputa ao Palácio dos Leões em 2022. O governador Flávio Dino (PSB) deve passar o bastão governamental a Brandão até abril, onde passará a cuidar de sua campanha ao Senado Federal. Na conversa, Gama aponta que este ano o Cidadania, que não terá candidato a governador, focará sua campanha para eleger uma maior bancada de deputados federais.
Eliel aponta a preocupação do partido com a cláusula de desempenho, que este ano alcança principalmente partidos menores. A cláusula de barreira, também chamada de cláusula de desempenho, foi criada a partir de alteração na Constituição pelo Congresso em 2017 para restringir o acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV. Só serão contemplados partidos que tiverem ao menos 2% dos votos válidos para deputados federais, distribuídos pelo país. Desde o ano passado, só tiveram acesso às verbas do fundo partidário e a tempo de TV as siglas que obtiveram 1,5% dos votos válidos em 2018.
Questionado sobre a eleição presidencial, Gama sugeriu que o apoio do partido tende a ser ao ex-presidente Lula (PT), líder em pesquisas com cerca de 44% dos votos. “Mas hoje tratando-se de uma eleição polarizada, dentro de um contexto talvez de segundo turno, onde vá ficar de um lado ameaças à democracia e aqueles que defendem a democracia, a tendência é de a gente acompanhar aqueles que vão valorizarem as instituições democráticas”.
Qual critério deve ser preponderante para o Cidadania apoiar um candidato a governador do Maranhão?
O primeiro critério que sempre vai ser colocado são os interesses do Estado. Aquilo que o Estado precisa para se desenvolver economicamente nas áreas essenciais, educação, saúde. Principalmente nessa época de pandemia.
Politicamente, pelo nosso partido, nós temos um desafio que é a cláusula de desempenho. Então nós precisamos participar da eleição. Partido que não participa acaba perdendo a sua identidade. É preciso disputar a eleição. É preciso abrir espaço para as candidaturas de deputados estaduais e federais. Evidentemente que nós, desde o início, tomamos a decisão de não lançar candidatura majoritária. O nosso foco será principalmente a eleição de deputados estaduais e federais. Com foco em federal em virtude da cláusula de desempenho.
Sua irmã, a senadora Eliziane Gama, tem sinalizado que pode apoiar Weverton. Você ao Brandão. É possível o Cidadania fechar apoio a um desses candidatos ou pode ocorrer a possibilidade de um palanque duplo no Maranhão?
Desde o início, tudo foi combinado e discutido. Desde quando a senadora também declarou apoio ao senador Weverton, havia um grupo que estava unido para decidir o melhor candidato que estivesse em condições para disputar. Então, a discussão inicial era para uma candidatura única.
E com relação a isso, o partido através da senadora, como líder de uma pessoa que o partido tem um grande apreço, discutiu profundamente durante muito tempo as condições para disputar a eleição numa possível chapa com o PDT. Mas na caminhada e no processo político, principalmente também dentro do debate nacional, houve a necessidade da gente começar a dialogar com o PSDB.
Para nós não há nenhum veto a pessoa do senador Weverton ou a sua candidatura. O que nós ficamos observando, juntamente com todos os dirigentes dos partidos, eram as condições para o partido disputar a eleição. E quando surgiu a aprovação da Federação nós tivemos que tomar uma posição mais enérgica com relação a isso.
E nós decidimos, internamente no partido, através de reuniões, encontros, diversas vezes, para apoiar o candidato Brandão, foi em virtude do PSDB e também por entender que o governador Flávio Dino iria de fato escolher o Brandão. Nos bastidores a gente já tinha essa compreensão. E o partido entendia naquele momento que era preciso a gente se confirmar dentro desse movimento político, e respeitando a posição da senadora, respeitando a candidatura do senador Weverton, que é uma candidatura viável. Nós tomamos a decisão de apoiar o Carlos Brandão.
Brandão está sendo cortejado a mudar de partido e pode ir para o PSB.
A nossa decisão está mantida, mas na política a gente precisa observar os contextos, que situação é essa, para onde realmente o Brandão vai. Então isso depende também de todo esse cenário. Mas a nossa posição interna é muito definida pelo projeto do vice-governador Carlos Brandão.
Na sua visão as denominações evangélicas estarão fechadas com Brandão?
Olha, eu tenho uma compreensão da Igreja de forma muito diferente. Eu acho que igreja é sociedade, é povo, gente e que todo mundo tira voto lá. Eu não acredito muito nessa ideia de uma igreja, fecha e vai todo mundo.
A exemplo disso na eleição de 2020 tivemos igrejas enormes que teriam condição de eleger quatro, cinco vereadores e não conseguiram eleger nenhum. Então a Igreja é muito aberta, democrática. E como a Igreja não é uma instituição política, ela é uma instituição religiosa, os crentes, nossos irmãos olham para o pastor não como uma autoridade política, eles olham para uma autoridade religiosa, espiritual, cristã e obedecem eles com relação a isso.
Mas geralmente quando se trata do voto eles se baseiam por aquilo que é melhor para sua cidade. Então há cristão que não votam em pessoas que não são evangélicos; cristão que vota em evangélico. Então é muito eclético, muito aberto a esse voto. Eu não sei exatamente, em massa, tratando isso no contexto amplo, para onde vai esse voto evangélico do Estado do Maranhão.
Na eleição de 2018 o governador Flávio Dino teve o apoio oficial de diversas instituições desta, mas este é um novo cenário e eu acho que essa discussão vai ser travada sim e é preciso avaliar todo esse contexto, dessa polarização existente, como é que vai conduzir.
Evidentemente que as grandes lideranças evangélicas hoje apoiam Jair Bolsonaro, do campo mais de extrema-direita, mais conservador. Mas as pesquisas também mostram que o eleitor, essa massa está dividida entre ele e Lula.
Para o Cidadania, Bolsonaro ou Lula?
O Cidadania é um partido de centro. Nosso posicionamento, embora achamos que não está fácil, o Cidadania aposta numa terceira via. E o nosso partido foi oposição ao Lula. Oposição a Dilma e vem se mantendo como um partido de esquerda, mas um partido de oposição.
Mas hoje tratando-se de uma eleição polarizada, dentro de um contexto talvez de segundo turno, onde vá ficar de um lado ameaças à democracia e aqueles que defendem a democracia, a tendência é de a gente acompanhar aqueles que vão valorizarem as instituições democráticas.