Em meio à mais grave crise sanitária e econômica do país – o Brasil já supera os 423 mil mortos pela Covid-19, com 14 milhões de desempregados e 3 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave –, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) promoveu um churrasco a amigos e familiares com carnes vendidas a R$ 1.799,99 o quilo.
A picanha de boi da raça wagyu, de origem japonesa, foi oferecida a amigos e familiares do presidente durante o almoço comemorativo do dia das mães, no último domingo (9), no Palácio da Alvorada, segundo informações do blog Cozinha Bruta, da Folha de S. Paulo.
Cada peça de carne tinha em média R$ 350g e é vendida por cerca de R$ 600 nas casas especializadas nos cortes. Ao menos duas dessas picanhas foram servidas, que implica em um total de R$ 1200 em meros 700 g de carne, mais do um salário mínimo, ou o equivalente a duas cestas básicas.
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Uma das fotos do churrasco foi compartilhado pelo perfil do Instagram “Churrasco do Tche”. O churrasqueiro, também conhecido como “Churrasqueiro dos Artistas”, veio de Belém do Pará – 1962 km de estrada do Ver-o-Peso – para atender o presidente. Ele levou peças de carne com embalagem personalizada com o slogan “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”.
Entre os convidados a festejarem na residência oficial estavam o o cirurgião plástico que fez as próteses da primeira-dama Michelle, os artistas Romero Britto, Eri Johnson e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.
‘Escárnio’ de Bolsonaro
A revelação provocou mais uma série de reações à postura de Bolsonaro.
Secretário das Cidades e Desenvolvimento Urbano do Maranhão, o deputado federal licenciado Márcio Jerry (PCdoB) classificou o episódio como mais uma “estupidez” de Bolsonaro. “Muita estupidez, caro amigo. Um surto”, escreveu, ao compartilhar a informação.
“Enquanto milhões passam fome, Bolsonaro faz churrasco com picanha de R$ 1.799,99 o quilo. Pro povo auxílio de R$ 150. Pra ele do bom e do melhor. Um escárnio!”, resumiu a deputada federal Érika Kokay (PT-DF).
O deputado federal e atual líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), afirmou que a imagem, que comprova a festença, é “um tapa na cara dos brasileiros que estão na miséria por culpa do seu desgoverno!”.
O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, ironizou a negação de integrantes do governo em torno da inegável crise. “Enquanto o povo passa fome, substitui carne por salchicha aprende se pode consumir pão mofado, Bolsonaro dá churrascos com picanha de R$ 1799 o quilo, ou 12x o valor de um auxílio emergencial. Entendi porque Fernando Bezerra disse ao Roda Viva que não há crise. Pra eles, não há mesmo”.