A deputada estadual Mical Damasceno (PSD) voltou a ser alvo de críticas dentro de sua própria base conservadora nesta semana, após declarar na Assembleia Legislativa que nunca traiu suas bandeiras evangélicas, mesmo tendo integrado governos de esquerda no Maranhão.

Durante sessão nesta quarta-feira (2), Mical reagiu às cobranças de eleitores que passaram a questionar sua coerência política. Em fala direcionada ao deputado Rodrigo Lago, ela reconheceu que foi base, mas tentou justificar afirmando que “nem tudo é do nosso jeito” e que, por vezes, é preciso “engolir banana atravessada para alcançar o objetivo”. A frase viralizou como confissão de que, apesar do discurso conservador, a deputada compôs politicamente com Flávio Dino e sua base de aliados.

Na prática, o histórico confirma: Mical Damasceno não apenas foi base de Flávio Dino como pediu voto para o ex-governador e se beneficiou de indicações e recursos liberados pela gestão estadual.

Nos registros de campanha, aparecem imagens de Mical ao lado de Flávio Dino, Eliziane Gama e Weverton Rocha em materiais oficiais, santinhos e postagens em redes sociais. Nas eleições de 2018, Mical se apresentou como candidata da ala evangélica dentro da coligação de Dino. E mais: seu sobrinho, Tarcísio Damasceno, foi nomeado capelão, cargo que se tornou símbolo da chamada “farra dos capelães” durante os governos Dino e Brandão — tema que rendeu fortes críticas à época, inclusive de setores religiosos independentes.

Além disso, Mical indicou emendas milionárias ao Hospital Regional de Viana, obra executada em parceria com o Governo do Estado. Na revitalização da Praça da Família, no mesmo município, Mical discursou agradecendo diretamente o então governador Flávio Dino e secretários estaduais. Em suas redes, postagens antigas registram elogios públicos a Dino e agradecimentos por liberar recursos para suas bases eleitorais.

Na Assembleia Legislativa, Mical votou diversas vezes alinhada à base governista. Foi autora da lei que instituiu o “Dia Estadual do Capelão Evangélico”, uma demanda que também atendeu ao interesse de grupos aliados ao governo. Mais recentemente, mesmo se apresentando como opositora, foi vista articulando com deputados da base para derrubar vetos de governadores do próprio campo político que diz combater.

Agora, com o avanço do discurso bolsonarista e mais dependente da militância evangélica, Mical tenta se afastar do passado que a ligou aos governos de esquerda no Maranhão. Mas o discurso não apaga o histórico: as fotos, os documentos, os registros de votações e os cargos indicados comprovam que, durante anos, ela se beneficiou e sustentou a base política de Flávio Dino.

Na fala desta semana, ao reconhecer que “engoliu banana atravessada” para garantir espaço político, Mical apenas confirma o que a oposição e até parte de seus eleitores já sabiam: a coerência sempre foi secundária para quem faz da política um palanque para sobreviver em qualquer governo.

Fotos, santinhos e documentos estão circulando novamente nas redes sociais como prova de que o discurso atual de “independência” não se sustenta diante do histórico real.