O vice-presidente Hamilton Mourão (PTB) riu ao ser questionado nesta segunda-feira (18) sobre a eventualidade de serem investigadas as torturas cometidas por militares durante a ditadura militar brasileira. Os áudios têm sido divulgados pela jornalista Míriam Leitão em sua coluna no jornal O Globo. O conteúdo revela mostram audiências do Superior Tribunal Militar (STM) na época do golpe militar onde o Brasil passou a ser governado por generais por quase 20 anos. Nas sessões, os militares falam sobre as torturas que eram praticados nas celas brasileiras.
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Na entrada do Palácio do Planalto, os jornalistas perguntaram ao vice de Bolsonaro se ele achava que a revelação dos áudios iria motivar um novo inquérito.
“Apurar o quê? Os caras já morreram tudo, pô. [risos]. Vai trazer os caras do túmulo de volta?”, afirmou Mourão, que é general da reserva do Exército.
O vice-presidente minimizou a situação e ainda disse que considera que o tema faz parte do passado.
“História, isso já passou, né? A mesma coisa que a gente voltar para a ditadura do Getúlio. São assuntos já escritos em livros, debatidos intensamente. Passado, faz parte da história do país“, tentou amenizar Mourão.
O que dizem os áudios que Mourão riu
Ao todo, são mais de 10 mil horas de gravações, e os áudios foram analisados pelo historiador Carlos Fico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Nos áudios, por exemplo, um general defende a apuração do caso de uma uma grávida de 3 meses que sofreu aborto após choques elétricos na genitália; e um ministro denuncia uma confissão de roubo a banco obtida a marteladas – o suspeito estava preso à época do crime.
Há diversos indícios de crime de militares daquela época. Em um trecho revelado pelo Globo, o general Rodrigo Octávio afirma em 24 de junho de 1977, durante o julgamento da Apelação 41.048 que “fato mais grave” suscita a análise da apelação. Ao descrever o assunto a ser julgado, o militar revela que “alguns réus” apresentaram “acusações referentes a tortura e sevícias das mais requintadas”.
Descreve ainda o general que, conforme esses réus, uma mulher grávida de 3 meses sofreu aborto após “castigos físicos” no Doi-Codi, órgão militar da ditadura. Relata também que, conforme o marido dessa mulher, ela sofreu “choques elétricos em seu aparelho genital”.
Não é possível rir diante de revelações deste porte. Foram 20 anos de governo militar, regime de repressão, silenciamento da imprensa, torturas. O respeito à história é a responsabilização dos culpados por esse crime contra o país deveria ser a missão a se seguida pela justiça brasileira.